terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Cigano Peregrino - 26

Na madrugada do dia seguinte, ela me despertou com um beijo e me chamou para irmos às ruínas e é claro que topei. Chegando lá, fizemos um circulo no chão, arrumamos os quatro elementos (água, fogo, terra e ar) e sentamos um de frente para o outro:
- Gilberto, quero lhe apresentar à 4ª dimensão. Está disposto a conhecê-la?
- Sim.
Ela me mandou deitar e relaxar:
- Pense num sentimento que o incomoda. Balance a cabeça silenciosamente quando o identificar.
Pensei na culpa que sentia por ter batido em Luiz daquela forma. Eu ainda não havia conseguido me perdoar. Balancei a cabeça e Chencha prosseguiu:
- Ótimo!Quero agora que você aumente a intensidade desse sentimento a ponto de se sentir esmagado por ele.
Eu o fiz e me senti mal. A culpa cresceu tanto que se tornou maior que eu mesmo e foi me tomando de tal forma que me senti acorrentado, comprimido, sufocado.
- Agora destrinche esse sentimento, vá à sua raiz e verifique as implicações dele sobre você – comandou Chencha.
Não sei como, me apartei da culpa e comecei a vê-la fora de mim, como um objeto de estudo. Vi que ainda tinha muitos resquícios do meu passado católico imerso na noção de pecado, céu e inferno. Vi que a sentia por ainda não ter me integrado com minha própria sombra. Vi que ela me fazia sentir péssimo e me questionei por que eu ainda me submetia a um sentimento que eu mesmo gerei e que portanto estava sujeito a mim? Vi que poderia exercer meu domínio sobre a culpa e fazer dela o que bem entendesse.
- Agora assuma seu poder, Gilberto, e submeta a culpa. Coloque-a em seu devido lugar e do tamanho que desejar.
Senti um calor interno e uma liberdade imensa fluindo por minhas artérias e veias. Reduzi a culpa ao tamanho de uma formiga e a esmaguei. Senti-me vitorioso e cantei meu triunfo pelos quatro cantos. Ouvi então minha companheira dizer:
- Abra os olhos.
Ao abri-los, vi-me numa estanha dimensão. Era o mesmo lugar em que estávamos desde o início, mas havia algumas diferenças... Pessoas, mitos, crenças, padrões...
- Não se assuste – Chencha me tranquilizou. – Bem-vindo ao reino da mente coletiva humana. Os sentimentos e pensamentos de toda a raça humana se misturam aqui, formam teias fantásticas. Bem-vindo ao mundo dos arquétipos.
Então surgiu em minha frente um ser bizarro que era o amálgama de vários ditadores da história da humanidade. Uma mescla de Hitler, Fidel, Pinochet e outros tantos!
- O que é isso?! – perguntei.
- O Arquétipo da Tirania. É um Annunaki.
- Que é um Annunaki?
- Eu sou um dos Guardiões dessa Dimensão – respondeu-me o ser. – Sou um dos controladores da Elite Global. Sou aquele que dita as normas, a conduta, o consumo e os limites.
- Não vou com a sua cara – falei.
- Insolente. Merece uma repressão!
Em seguida me vi dentro de uma sala de tortura e fiquei apavorado. Vários algozes estavam se preparando para me flagelar e meu medo cresceu. Ouvi a voz de Chencha em minha mente: “Gilberto, tudo aqui é mental. Tudo é criação da sua mente. Saia do medo e gere um arquétipo de prazer com seu pensamento e sentimento”.
Concentrei-me e pensei na última vez em que fizemos amor. Subitamente o cenário mudou: eu estava na concha de Afrodite com a belíssima Deusa do Amor e vi Eros e Psique em pleno ato amoroso. Sentimentos fortes de amor, prazer, posse e ciúme me tomaram, mas me lembrei de que ali tudo era mental e comecei a brincar com os arquétipos:
Pensei em Rock’n Roll e me surgiu Elvis Presley. Ele cantava e mexia diante de mim e de uma plateia imensa e todos nós íamos ao delírio. Foi aí que recordei que estava na 4D e me reportei à mentira e me deparei com Pinóquio. Fiquei deslumbrado por estar diante do boneco que queria ser gente. Ele me perguntou o meu nome e eu falei “Miguel”, então meu nariz começou a crescer e eu achei aquilo tão engraçado que comecei a rir e aquela alegria trouxe para mim Mazzaropi e a partir dali, cada ideia ou emoção que eu acessava estava ligada a um arquétipo, a um mito, a um símbolo. Pensei em revolução e fiquei cara a cara com Che Guevara; pensei na fome e fui parar na Etiópia; senti dor e vi Jesus na cruz; pensei em futebol e vi Pelé; senti frio e vi um esquimó, e por aí vai...
Num determinado momento, fiquei tão cansado dos arquétipos que desejei rever Chencha, que me apareceu sorridente:
- Que foi, viajante? Cansou?
- Cansei. Isso funde a cabeça.
- É verdade. Até os grandes deuses mitológicos habitam aqui.
- Jura?!
- Sim. E isso não é grande coisa. Eles foram criados pela mentalidade annunakiana para enganar as pessoas.
- Com que finalidade?
- Enganar, manipular, controlar...
- Para quê?
- A espécie humana é poderosíssima, mas a maioria de nós desconhece o infinito poder que tem e por isso mesmo é presa fácil nas mãos da Elite, que está concentrada nas mãos de poucos e o que menos quer é que as pessoas acordem e rompam com esse cativeiro. A Elite considera a humanidade como um brinquedinho avançado e não quer perder sua diversão.
- Isso é terrível!
- Mas não desanime. O que não falta é gente para ajudar as pessoas a romperem suas próprias correntes e multiplicarem a energia do Amor e da Liberdade.
- Chencha, fale-me dos Deuses.
- Cada um de nós é a Divindade, mas ao longo dos séculos, nos condicionaram a buscar o Deus e a Deusa fora de nós. Alguns desses deuses nada mais são que inteligências extraterrestres. Meros astronautas. Outros tantos, jamais chegaram a existir e são apenas criações do inconsciente coletivo ou elementais formados de idéias fixas e crenças limitadoras. Infelizmente nos ensinaram a enfrentar a vida, buscando o consolo e a força em seres imortais que podem nem mesmo ser reais.
- Isso quer dizer que é tudo um engodo?
- Nem tanto. Existem inteligências e elementais bacanas aqui também.
- Então porque não nos voltamos apenas para estas?
- Porque é a necessidade e a crença humana que mantém vivos os deuses. E já que há necessidades positivas e negativas, também haverá manifestações positivas e negativas.
- Sinto-me uma marionete! – Desabafei desanimado.
- Nem tudo está perdido. Quando a pessoa se conscientiza do próprio poder, passa a ignorar as influências da 4D sobre si e com isso, passa a ter uma relação bem sadia com essa dimensão.
- Odeio a 4D!
- Alivie seu coração, muchacho! Há também coisas boas por aqui.
- Como por exemplo?...
- Os poetas, os escultores, pintores, escritores, artistas, diversos lideres e pensadores nada poderiam criar ou fazer se não sugassem, como colibris, os arquétipos grandiosos que também aqui habitam. Eles sugam aqui e fertilizam lá na superfície terrestre.
- Por que vêm sugar o néctar justamente daqui?
- Porque os Arquétipos colocam desejos ardentes em nossa mente e nos influenciam a criar novas realidades.
- O que faz a diferença então é a forma com que lançamos mão desse maravilhoso poder.
- Isso mesmo!
- É... Retiro o que disse a respeito dessa dimensão. Estou começando a gostar da 4D.
- Que bom, meu amigo! E então? Vamos voltar à 3D?
- Vamos.

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