sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Epílogo

Nesse tempo de dúvida, recebi de Maya um grande presente: O livro “Sete Ciganos”, que conta a história do meu pai Shalom Carín e dos seus amigos ciganos, que partiram para as estrelas. Durante uma semana devorei o livro e no final, tomei minha decisão de partir e a incumbi de concluir meu relato.
Adeus, amigos!

A partir desse ponto, eu, Maya, assumo a narrativa dessa encantadora história. Todos fomos para o templo de Kali. Chagando lá, pedi a todos que nos despíssemos e assim foi feito. Para cada um de nós havia um balde com banho de jasmim e uma tigela. Pedi que cada um se banhasse, com a intenção de se purificar e assim o fizemos. Senti-me bastante feliz e percebia o mesmo com relação aos demais. Eu contemplava o semblante sereno de Gilberto Carín e me enternecia com o Amor que fluía de seus poros. Clara, Richard, Chencha, Coiote, Maria e Nasser emanavam sentimentos deliciosos de amor e amizade.
Incensos queimavam, velas ardiam, frutas exalavam aromas afrodisíacos, música diáfana elevava nossas emoções e pensamentos, meu corpo e minha alma ardiam de desejo, de paixão e de amor pelo Cigano. Mesmo antes de conhecê-lo, eu já sonhava com ele e já o amava. Parte de mim se ressentiu de eu poder usufruir tão pouco de sua presença e de sua carne, mas tê-lo em minha casa, conhecer mais um pouco da sua alma e poder auxiliá-lo a fazer a Grande Viagem, oferecendo-me de corpo e alma, na primeira e última relação sexual que tivemos foi tudo para mim. Ele já estava muito sutil. Se tivéssemos copulado antes, teria partido para qualquer outro lugar, porque o orgasmo é o único meio de transporte para outros Universos e só poderíamos mesmo fazê-lo uma única vez, a fim de que ele pudesse cair do Buraco Negro com segurança e certeza. Considero-me uma mulher abençoada por isso.
Depois de nos banharmos, eu disse ao Cigano que aquela era a hora de ele se despedir dos nossos amigos.
Ele se dirigiu a Clara, segurou em suas mãos e lhe disse:
- Eu lhe sou muito grato por ter me guiado até a Primeira Dimensão e por ter me propiciado aventuras maravilhosas nos mundos subterrâneos.
- Também lhe sou grata – foi a vez dela – por tudo o que vivemos e que você me ensinou. Te amo!
- Também te amo!
Gilberto e Clara beijaram-se com paixão e ele se dirigiu a Richard:
- Meu doce amigo, com você conheci a Segunda Dimensão, os elementais e o mundo microscópico. Com você, harmonizei minha lucidez com minha insanidade.
Com lágrimas nos olhos, o belo Richard falou:
- Nunca o esquecerei, Cigano.
Eles se beijaram com sofreguidão e o Peregrino parou diante de Chencha:
- Minha querida companheira, você me conduziu pelos caminhos da Terceira e da Quarta Dimensão e é a mãe de uma parte de mim que fica na Terra. Eu a amo!
- Nunca me esquecerei do seu “Streaptease”! – Ela falou e todos rimos, soubemos de quando ela o submeteu a um teste: Ela só transmitiria os ensinamentos para ele, se ele se despisse em público e ele o fez... Homem imprescindível!
Beijaram-se, abraçaram-se e ele se posicionou diante de Coiote Vermelho:
- Meu amado Coiote, como foi bom ter sido guiado por você pela Quinta e pela Sexta Dimensões!Tivemos momentos lindos de amor.
- Nunca se esqueça de que você é o único senhor da sua vida.
Beijaram-se e ele passou para falar com Maria do Céu:
- Mulher do Graal! Minha estrela guia pela Sétima Dimensão. Fui muito feliz ao seu lado.
- Eu não sei o que dizer, meu amado!
Maria do Céu abraçou-o e os dois ficaram alguns instantes naquela posição. Beijaram-se e ele se dirigiu ao simpático Nasser:
- O destino foi muito generoso conosco, Nasser!
- Com certeza, irmão.
- Obrigado por ter-me guiado no encontro com a Mente Divina!
- Foi um prazer!
Eles também se beijaram e foi a vez de Gilberto parar diante de mim. Dos seus olhos saiam chispas de fogo e eu me arrepiei toda quando segurou minhas mãos. Sua grandeza me tomou por completo e fiquei sem ação:
- E agora, Deusa Maya – disse-me com sua voz ao mesmo tempo branda e titânica – Leve-me daqui.
- Será uma honra, meu amigo, meu esposo, meu irmão! – Falei.
Retirei a imagem de Kali do altar e a coloquei numa base de mármore. Finalmente eu iria realizar o tão sonhado Hiero Gamos! Eu esperei anos por aquilo e a hora havia chegado.
Retirei o lençol e todos se maravilharam com o que viram: uma cama de ouro maciço que resplandecia nossas energias.
Gilberto pegou-me pela mão e conduziu-me ao altar. Deitamo-nos e começamos a nos acariciar. Os outros seis aproximaram-se do leito, tocando-o e potencializando nossa paixão. Não éramos apenas nos dois fazendo amor, mas nós oito, o Infinito.
O Cigano penetrou em mim com doçura. Nossos corpos deitados no ouro, as mãos dos nossos amigos tocando o leito, o movimento, as ondas crescentes de prazer, as velas, os incensos, as frutas e aquele homem todo dentro de mim prestes a partir para sempre... Senti a aproximação do clímax. Nós o atingiríamos no mesmo instante. Agarrei-o com força como se pudesse segurá-lo na Terra e eis que gozamos infinitamente. Uma chuva de estrelas caiu e me vi pairando sobre a Via Láctea com o Peregrino. Divisamos o Buraco Negro e comecei a sentir-me atraída pela força que emanava dele:
- Vamos! – Gilberto convidou-me.
- Não posso.
- Eu te amo!
- Também te amo... Ficamos tão pouco tempo juntos!
- A eternidade nada mais é que um instante – disse-me e soltou minha mão.
Vagarosamente ele foi se aproximando do Buraco Negro e eu, retornando à Terceira Dimensão. De repente eu o vi sendo tragado pela super-gravidade numa rapidez incrível. Meu Cigano Peregrino havia partido... Para sempre!

Retornando ao altar, vi-me só. Encolhi-me, ficando em posição fetal. Sentia-me vazia e plena; abandonada e totalmente amada. Explodi num choro que virou riso e tive o acolhimento de meus seis amigos que cuidaram de mim, protegeram-me e durante uma semana ficaram ao meu lado. Nós sete nos consolamos e passamos momentos deliciosos relembrando as loucuras de Gilberto Carín.
Quando cada um partiu para seu país, para sua vida, voltei ao templo de Kali. Cobri o altar com o pano branco; pus a imagem no lugar onde ela sempre ocupou e rezei por meus amigos, por Gilberto. Senti sua falta. Perguntei-me se o veria novamente e que novas aventuras estaria ele vivendo naquele momento... Mas penso que isso são coisas de outros Universos e não nos cabe no momento saber o que acontece por lá... A não ser que tenhamos a coragem de passar pelo Buraco Negro e nos perdermos para sempre de tudo o que um dia conhecemos.

Maya.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 47

De volta à casa de Maya, banhamo-nos, descansamos, ceamos e mais tarde nos encontramos no templo de Kali. Estávamos todos sentados em círculo. Havia música tranquila, incenso, flores, velas acesas e frutos:
- Escolhi esse lugar para falarmos da Nona Dimensão – disse nossa anfitriã.
- Excelente escolha! – Disse Richard beijando-lhe a mão. Estava ao lado dela.
- Antes de darmos asas ao nosso intelecto – continuou Maya – proponho vivermos uma experiência. Penso que dessa forma, falaremos com maior profundidade sobre essa dimensão.
Todos concordamos.
Ela pediu que fechássemos os olhos e que ficássemos na posição mais confortável que quiséssemos. Alguns ficaram sentados; outros deitaram, como eu.
- Sintam a Nona Dimensão. Sintam apenas com seu Eu Pleno e Divino...
Cada um de nós, com menos ou mais informações sobre a dimensão, nos concentramos e procuramos sentí-la. Fui tomado por um forte calafrio e aos poucos comecei a perceber que as partes do meu corpo estavam sendo todas atraídas para o meu centro. Minhas extremidades iam se encolhendo aos poucos e tive a impressão enlouquecedora de que estava desaparecendo. Num dado momento, eu havia me tornado um imenso vazio e estava consciente daquilo e continuava com minha essência, com minha consciência!
Tornei-me então um imenso Buraco Negro e passei a exercer forte atração sobre tudo que estava dentro e fora de mim. Experimentei uma sensação maluca de infinitude quando me senti sendo respirado, tragado pelo Cosmos.
Desloquei-me para o centro da galáxia e me transformei nela. Vi-me só e pleno. Nunca havia me sentido tão verdadeiramente livre...
Até que comecei a me sentir esvaindo e senti um toque em minha testa, depois as mãos dos meus amigos tocando meu corpo:
- Peregrino, você já quer partir? – Ouvi a voz de Maya bem ao longe.
- Não sei... É tão bom! Não sinto quase nada... – respondi.
- Escolha. Se quiser partir, diga, que nós retiraremos nossas mãos de você e a passagem será feita.
Senti uma força extraordinária me atraindo, mas estava dividido. Não queria ir daquela forma. Não sem antes me despedir de meus amores e foi assim que voltei e apaguei.

Momentos depois eu despertei e todos me olhavam amorosos:
- Bem-vindo, Cigano! – Saudou-me Coiote – Por pouco iria embora e nem ia dar-nos um beijo de despedida.
- O que aconteceu?! – Perguntei meio zonzo.
- Você se transformou numa Usina de Energia e causou maravilhas em todos nós – respondeu Clara. – Por ter acessado tamanho nível energético, quase nos deixou.
- Sua presença aqui na Terra está por um triz – disse-me Nasser num misto de alegria e tristeza.
- O que tem a nos dizer da Nona Dimensão, Cigano Peregrino? – Perguntou-me Maya.
- É um vasto Buraco Negro no centro da nossa galáxia. É lindo! – Respondi.
- Você é muito doido! – Exclamou Maria do Céu – Sempre vai longe demais.
- E por ter sempre ido tão longe, chegará um momento em que não terá mais volta – queixou-se Chencha.
- Por que não vêm comigo?! Há tantos mundos para desvendarmos...
- Quem sabe um dia nos encontraremos pelas esquinas do Infinito! – Falou Maria do Céu – Mas nesse momento eu ainda quero ficar por aqui.
- Você é senhor absoluto de sua vida e do seu caminho – disse-me Coiote – Siga-o.
- Que mais pode nos dizer?! – Questionou-me Richard afoito – Tenho dificuldade em definir um Buraco Negro. Se é que seja possível definí-lo...
- Precisamente eu não sei o que dizer – falei.
- Eu posso lhe ajudar, Richard – falou Maya. – Um dia uma estrela teve um grande colapso! – Falou de forma teatral, divertindo-nos – E desse colapso, formou-se um Buraco Negro e ele possui uma gravidade tão intensa que não permite a vazão de luz alguma do seu interior.
- Percebi que ele é um núcleo gravitacional que se manifesta em ondas de tempo. Tudo no Universo se desenvolve a partir de centros. É impressionante! – Relatei embevecido.
- O que está acontecendo e a maioria dos humanos não percebe – falou Clara – é que o poder energético desse imenso centro de força está ativando nossos corpos e mentes. Tudo está mudando em velocidades diferentes para cada caso. Nosso metabolismo, nossos valores, relações, crenças, trabalhos, família.
- A nossa galáxia é como uma gigantesca água-viva de fótons que goza e cria o tempo todo eternas ondas em seu campo magnético – Explicou Maya – Tudo está mudando, como falou Clara, e isso se estende além dos humanos. Todas as formas biológicas, todas as energias estão se transformando. E estão se formando frequências tão elevadas na Terra, que os humanos estão deixando de ter carbono em sua estrutura e estão começando a incorporar a sílica na mesma.
- E o que isso significa? – Perguntei.
- Iluminação em todos os aspectos. Leveza e transformação molecular. Transcendência da Mulher para a Super-Mulher, do Homem para o Super-Homem – respondeu Maria do Céu.
- E o que isso significa? – Questionou Clara.
- Que todos enfim poderemos fazer apenas o que nos fascina – respondeu Maya. – Que o prazer estará em todas as realizações e será um bem comum. Que não precisaremos fazer mais nada forçados ou obrigados; que nos curaremos de todas as nossas marcas dolorosas e traumáticas.
- Fantástico! – Exclamou Richard secando os olhos.
- Percebi algo estranho na minha viagem – Comentei. – Vi superaglomerados se afastando de nosso planeta, deixando-nos numa posição aparentemente estratégica. Acho que estamos no centro dos acontecimentos. No centro de tudo!
- Há um propósito para isso – esclareceu Maya. – Quando um Buraco Negro se forma, ele é tragado numa espécie de funil, constituído pela curvatura do espaço-tempo. Quando você for tragado por esse funil, Cigano, será esmagado numa densidade cada vez maior, tornando-se uma Usina Energética, ou seja, uma Singularidade Cósmica e Biológica que será reduzida a um ponto de tamanho nenhum e assim reaparecerá em outro Universo. Agora imagine não só você sendo tragado, mas todo um planeta... Por isso os aglomerados estão se afastando. Ainda não será o momento deles de passar para outro Universo.
- Como se processará a minha passagem? – Perguntei.
- Primeiro você cairá no Buraco Negro – respondeu-me Maya. – Aí a diferença entre a atração gravitacional entre seus pés e sua cabeça será tanta que você será esticado e se assemelhará a um cordão de elástico. Depois você entrará no Horizonte de Eventos e aí não mais voltará nem entrará mais em contato conosco. Transcenderá o tempo e o espaço e começará a se aproximar da Singularidade, tendo seus átomos se estilhaçando. Tudo o que você terá sabido sobre o Cosmos entrará em colapso e Zás!... Você fará parte de um novo universo.
- Sentirei a falta de vocês! – disse emocionado e confuso. Eu não sabia mais o que eu queria depois daquele esclarecimento.
- Consulte a si mesmo e veja se está pronto – aconselhou-me Maria do Céu.
Pedi licença e retirei-me para o meu quarto.
Passei a noite em claro pensando nos prós e contras do ir e do ficar. O apego aos meus laços afetivos era forte. Eu sabia que de alguma forma ficaria ligado a todos eles, mas estava temeroso. Só que quando me lembrava da experiência de ser atraído pelo Buraco Negro, meu ser se rejubilava e eu me sentia fortemente inclinado a partir.

domingo, 6 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 46

É noite e não tenho sono. Gosto de escrever. Gosto de estar entre eles. De vez em quando sinto uma saudade antecipada... Mas para que saudade se sempre estaremos ligados? Para que dor, se nada nos separará – nem minha partida?

No dia seguinte, eu me sentia mais forte e Maya sugeriu que déssemos um passeio peça exótica Srinagar. E foi maravilhoso!
Apaixonei-me pela suntuosa capital de Caxemira. Meu olhar se perdeu várias vezes mirando aquelas montanhas nevadas. Vontade de escalá-las e quando chegasse ao topo, abriria os braços e saltaria para um vôo sem limites... Os vales verdejantes, as flores e o mágico rio Jhelum me encheram de vida. Durante todo o tempo, eu me sentia fazendo um ritual de despedida desse planeta sagrado. E o que me emocionou foi o fato de eu não conseguir mais me lembrar de fatos desagradáveis da minha existência. Em minha memória havia delícias e as poucas recordações amargas que estavam no livro da minha vida não me causavam peso, porém tão somente o valor das aprendizagens que tais experiências causaram em mim.
Conheci os lagos Dal e Nagin, bem como os encantadores canais. Encantei-me com as casas flutuantes que ficam sobre as águas e o comércio feito através de canoas, as Shirakas, que levavam nas portas das casas frutas, flores, alimentos, remédios, artesanato. Que coisa bonita! Tudo aqui é tão etérico, que mesmo caminhando é como se eu estivesse volitando constantemente. Ou sou eu que estou muito sutil? Ou é tudo, dentro e fora de mim que me deixa assim tão... Leve?
- Eu gostaria de levá-los a Ladakh, mas tenho receio pelo estado de Gilberto – falou Maya num determinado momento do nosso passeio.
- É muito longe? – Perguntei.
- Bastante.
- Por que queria nos levar lá? – Perguntou Nasser.
- Suas pequenas aldeias ficam nas montanhas e lá existem mosteiros de lamas. É um lugar interessante e desolador, cheio de pedras e cascalho... Essencial para encontrarmos nossas próprias ilusões.
- Vocês podem ir e eu fico – propus.
- Não! – Disse Coiote com veemência – É nosso dever e vontade ficar ao seu lado o máximo que pudermos até o momento da passagem. Teremos todo o tempo do mundo para irmos a Ladakh.
- Concordo – Maria do Céu fechou a questão.
- Isso aqui é o paraíso, Maya! – Exclamei – Um bom lugar para se morrer.
Todos riram.
- O imperador mongol Jehangir também disse isso, mas aqui também há os senões. A taxa de analfabetismo aqui é alta e isso é um grande problema para a formação da consciência das pessoas e ainda que aqui seja um lugar exuberante, há muita miséria. A eterna dualidade terrena! – Falou Maya.
- Que um dia haverá de se equilibrar – profetizou Chencha.

O Cigano Peregrino - 45

É noite e tento organizar as lembranças da conversa que tivemos com o grupo hoje à tarde, após meu encontro em particular no Santuário, com Maya. Aperto o cristal e me concentro. Lembro-me de todos nós sentados nos bancos do jardim da casa de nossa anfitriã:
- Penso que é interessante nivelarmos os nossos conhecimentos sobre cada dimensão – sugeriu Maya – a fim de que possamos melhor auxiliar nosso amado Cigano na sua Viagem.
- Concordo com você – anuiu Clara sorrindo.
- Pelo que me consta, a Primeira Dimensão é o Cristal de Ferro no centro da Terra. A partir dele tudo aqui se formou. Nós vibramos com a pulsação desse imenso cristal, que nos harmoniza com todos os seres na cadeia da existência – disse Richard.
- Vale ressaltar que a gravidade que vem dessa dimensão nos mantém fisicamente integrados – complementou Chencha.
- Muito bem, queridos – disse Maya – e o que podemos falar sobre a Segunda Dimensão?
- Trata-se do mundo telúrico – respondeu Coiote Vermelho - e tem como guardiões os Elementais, que são as inteligências radioativas, químicas, minerais, virais e bacterianas.
- É onde a vida começa – concluiu Maria do Céu.
- Isso mesmo, Irmã Maria ... E o que podemos dizer da Terceira Dimensão?
- Não preciso dizer muito – respondi – é onde nos situamos, por enquanto, na maior parte do tempo. É a superfície da Terra, da qual, nós humanos somos os Guardiões.
- Muito bem – disse Maya. - A Quarta compreende o mundo dos mitos e dos arquétipos e é guardada por nossos irmãos Annunaki. É o mundo dos grandes dramas e loucuras dos Deuses. Temos que ter muito cuidado com essas energias.
- E nos abrirmos para as inspirações evolutivas que também emanam de lá – disse Maria do Céu.
- É verdade, irmã – concordou Maya – A Quinta é a que mais me seduz.
- O Amor Incondicional! – Suspirou Clara.
- As Plêiades! – Exclamou Richard.
- A verdadeira Iluminação não está nos rituais, nas ordens secretas, nas religiões e nos livros. Quando se ama, se ilumina e se sabe de todas as coisas – Falei.
- Gosto muito da Sexta Dimensão – falou Chencha – Me encanta pensar no nosso mundo das formas como uma grande réplica da geometria sagrada.
- O que me chama mais a atenção nessa dimensão é a história do Ka. O poderoso Ramsés foi um homem que teve plena consciência do seu poder pessoal – informou-nos Nasser.
- E o que dizer dos sons sagrados da Sétima? – Questionei – É maravilhoso saber que cada átomo presente no Universo possui seu mantra característico!
- E que os terráqueos se mirem no exemplo de Aion! – Sentenciou Coiote – E transcendam os traumas e a dor.
- Para então gozar da plenitude da Mente Divina na Oitava e romper com tudo o que há nesse anti-sistema que oprime e limita o ser – falou Maria do Céu.
- Isso me alegra! – Externou Maya com lágrimas nos olhos – Ver-nos tão amorosos e conectados e saber que além de nós, muitos outros no Universo trabalham pela Luz, pelo Amor e pela Vida faz-me sentir sempre renovada para continuar.
- A nossa missão por vezes é árdua! – desabafou Richard – Mas todo o prazer que há em ser um Agente do Amor compensa qualquer tristeza, cansaço e frustração que seres ainda com dificuldade de amar possam nos causar.
- E vale dizer que não são esses seres que nos magoam – ressaltou Clara – e sim nós que nos magoamos com eles por causa do nosso nível de expectativas projetadas.
- Mas é difícil não esperar, não projetar, não aguardar resultados – disse Coiote.
- Mas não é impossível – falou Maria do Céu acariciando-o – O Amor é paciente.
- Só que muitas vezes, por me amar – testemunhou Maya – tive que deixar de ser paciente com algumas pessoas e abandoná-las.
- Tudo enfim é amor – disse Maria do Céu – E vale mesmo é sermos verdadeiros com o que sentimos, ainda que precisemos ser duros e radicais em determinadas situações. O Amor é tudo: paciente, intransigente, construtor e destruidor...
- Viva o Amor! – Bradei.
- Viva!!! – Todos repetiram.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 44

CAPÍTULO VI

SRINAGAR

“Trilhar as estradas que não trilhei, seguir os ventos que clamam por mim. E assim minhas mãos saberão dos meus pés e assim renascer, e assim renascer”.
Altair Veloso

Não havia forma melhor de começar o último capítulo dessa história. Agora que me sinto tão próximo do Nascimento. Lembro-me de um poema lindo de Mário Quintana, “Inscrição para um portão de cemitério”:

Na mesma pedra se encontram
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela
Quando se morre – uma cruz
Mas quantos que aqui repousam
Hão de entender-nos assim
“Ponham-me a cruz no princípio
E a luz da estrela no fim.

Sinto-me assumindo meu verdadeiro brilho e isso é a glória!

Estamos todos hospedados na casa aconchegante de Maya. Ela é uma pessoa divina. Uma mulher sábia e amorosa que acolheu a todos nós. É morena e tem um olhar bastante expressivo e amável.
 A energia daqui é boníssima! No jardim da casa tem um encantador templo consagrado à Deusa Kali e eu passo horas contemplando sua imagem, tendo insights interessantes sobre muitas coisas, dentre elas, as origens do povo cigano. O que me chamou a atenção foi o altar onde fica a imagem. Ele tem a dimensão de uma cama convencional e é forrado por um grande lençol branco. Achei o altar desproporcionalmente imenso para o tamanho da imagem, mas tudo bem.
Numa viagem astral, pude ficar bem pertinho da minha filha e fiquei profundamente agradecido pela oportunidade. Sara é um raio de luz!
Eu e Nasser fechamos nosso ciclo como amantes com leveza e maturidade, pois eu sentia que mais cedo ou mais tarde me envolveria com Maya.

Numa tarde, a sós com ela no Santuário, conversamos:
- Sou sua Guia para a Nona Dimensão.
- Sei disso.
- Preciso saber qual será sua escolha após acessá-la: voltará ou não?
- Não. Quero partir.
- Coube a mim a parte mais delicada da missão, mas é uma honra recebê-lo no melhor estado de si mesmo. Você está tão sutil que sua próxima relação sexual poderá ser a última nesse corpo.
- Explique-me.
- O orgasmo é a passagem. Quero lhe explicar algumas coisas sobre a Nona, mas o grande acesso se fará quando você mantiver o coito com alguém por quem sinta amor e que o ame.
- Você me ama?
- Mesmo antes de conhecê-lo. Eu já sabia que você viria e qual seria o meu papel.
- Escolho você para me ajudar na passagem.
- Você me ama?
- Desde que a vi.
- Não é só paixão?
- E que mal há na paixão?
- Nenhum. Sem a chama não há a brasa da fogueira. A paixão é a raiz de tudo. O amor é a consequência.
- Para mim é só um jogo semântico. Ama-se simplesmente e pouco importa o tempo, o espaço e as condições.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 43

Acordei sete dias depois em casa de Nasser e tive uma grata surpresa: Clara, Richard, Chencha, Coiote Vermelho e Maria do Céu também estavam lá e me acolheram com muito carinho:
- Pensávamos que você não ia voltar – disse Nasser.
- Nenhum de nós foi tão longe – falou Clara – Você é louco!
- E agora, amigo? O que vai fazer? Continuará a viver aqui no planeta? – Questionou-me Richard e eu sorri.
- Como todos vieram parar aqui? – Perguntei.
- Nasser fez contato com Maria do Céu, que encontrou Coiote, que contatou comigo e aí foi fácil localizar Richard e Clara – falou Chencha.
- E por que vieram?
- Porque nós o amamos e queremos ficar ao seu lado, viver esse amor até o momento da sua partida – falou Coiote.
- Queremos ir contigo para a Índia. Pelo que sabemos, lá será sua última parada aqui na Terra – falou Maria do Céu.
- Então vamos. Mas antes quero passear mais pelo Egito e descansar. Sinto-me exausto.
- Seu corpo está muito sutil – disse-me Nasser amavelmente. – Precisa se poupar.
Apertei sua mão e voltei a dormir.

Quando acordei, os outros já haviam partido para o hotel e meu bom amigo Nasser estava ao meu lado:
- Como está? – Perguntou-me.
- Sinto-me estranho. É como se não tivesse mais corpo físico. Tudo está tão leve, que pareço nem sentir mais a força da gravidade. Por que Richard me questionou se eu ainda iria querer viver no planeta?
- Sua entrega na cópula com a Lua e com o Cosmos foi muito intensa. Quando alguém se predispõe a viver algo assim é normal que não suporte viver mais aqui. Reconectar-se plenamente com a Mente Divina é transcender todos os limites e condições impostas pelos códigos terráqueos. Talvez você consiga ainda viver algum tempo entre nós, mas penso que mais cedo ou mais tarde, partirá. Foi por isso também que todos supomos que Srinagar será sua última parada.
Afaguei a face de Nasser e ele corou. Senti um imenso amor por ele e o beijei. Envolvemo-nos em nossos braços e trocamos carícias deliciosas:
- É uma pena eu só poder ter te conhecido agora – Lamentou-se.
- Por que, meu querido?
- Porque eu adoraria passar mais tempo contigo e sei que isso não será possível. O que me conforma é saber que nesse momento eu tenho o melhor de você.
Desejar Nasser e viver aquele instante mágico com ele me deixou mais “plantado”. Entregamo-nos de corpo e alma e através da paixão vivemos êxtases profundos. Na cama com Nasser, eu me sentia fazendo amor com o todo o Universo. E foi tão maravilhoso que por pouco não deixei meu corpo para sempre.
No dia seguinte, meus amigos voltaram à casa de Nasser e vivemos momentos de alegria. Eu ainda me sentia depauperado, porém a presença deles fazia com que eu renovasse minhas forças. Perguntei a Clara por nosso filho e ela me respondeu:
- Está lindo e crescendo. Trouxe uma foto dela.
- É uma menina?
- Sim. Seu nome é Sara.
- A Padroeira do meu Povo! A Filha de Jesus!
Ela meteu a mão na bolsa, tirou um envelope e mo deu:
- Tome, é sua.
Ansioso abri o envelope e puxei a foto. Fiquei emocionado com a imagem da minha filha. Era um bebê lindo. Como eu quis carregá-la em meus braços! Sentir seu cheiro! Brincar com ela! Mudar as fraldas! Dar comidinha... Fiquei abobalhado contemplando aquele ser divino até Clara me pedir para ler o que estava no fundo. Eu o fiz e dizia assim:

“Ao meu papai querido e cigano, ofereço meu amor e minha amizade.
Te amo,
Sara.
1 ano e nove meses”.

Caí no choro:
- Com quem ela ficou?
- Com uma amiga.
- Quem?
- Minha atual companheira.
- E ela não se zangou com sua vinda?
- Não. Guadalupe foi quem mais me estimulou a vir.
Eu sorri, olhei a foto e quis gravar a imagem daquela criança linda. Sangue do meu sangue!
- Ela é Iluminada! – Exclamei.
- Com certeza! – Falou a mãe da minha filha – Ela herdou nossa loucura.
Ainda comovido, perguntei a Richard sobre como ia a vida dele.
- Tenho me encontrado sempre com Emmanuel e ele ficou feliz ao saber que iríamos nos reencontrar e mandou muito amor para você.
- Que bom! Como está ele?
- Continua semeando amor.
- Ele é muito lindo!
- Amo conviver com ele!
- Que bom, meu amigo! E você, minha Chencha, como vai? – Perguntei.
- Por estar revendo você, Coiote Vermelho e conhecendo tanta gente bonita, estou ótima, meu amigo.
- Tem notícia de Luiz?
- E como tenho! Ele abriu uma lanchonete que se tornou um dos locais mais frequentados da cidade. Sempre vou lá e relembramos sua passagem pelo México.
Rimos.
Coiote me contou haver voltado para o México e falou-me bem dois amigos que deixei em Sidney.
Maria do Céu presenteou-me com um cálice de argila. Fiquei muito feliz por estar com eles todos. Falamos das minhas histórias, das deles e demos boas gargalhadas.

Refeito e devidamente “aterrado” fiz passeios gostosos com meus amigos: brincamos nas margens do Nilo e fizemos Rituais de Fertilidade; fomos a Sakkara, a cidade dos mortos dos tempos faraônicos e vivenciamos momentos de Poder Pessoal muito fortes; fomos ao Museu Copta e eu me embriaguei de tanta beleza e informação; conheci a Árvore da Virgem em El Mataryia, onde segundo a tradição, descansaram Jesus, José e Maria; encontramo-nos com nossas raízes islâmicas na mesquita de Mohamed Ali e finalizamos nosso tuor no Museu Egípcio, que encerra o tesouro do Faraó Tutankhamon.
A convivência com todos foi algo terno e aconchegante. Eu me sentia pleno por estar entre pessoas que muito amava e que viveram momentos de intimidade tão verdadeiros comigo e por estar vivendo aquilo, naquele momento com Nasser. E o mais bonito era que todos com quem eu havia “casado” partilhavam o amor e a amizade comigo e meu novo parceiro. Sem ciúmes, sem falsidades. O amor bastava e estávamos felizes.
Com o tempo, foi acontecendo comigo o que eles me disseram: a sutileza foi me tornando mais sensível e vulnerável. Eu só me sentia verdadeiramente bem quando estava protegido por meus seis amores e no meu interior começou a surgir uma imensa necessidade de ir embora.
Certo dia, Nasser recebeu um telefonema e nos contou que uma mulher chamada Maya havia sonhado conosco e que ela nos esperava em Srinagar, porque eu não tinha mais muito tempo e precisava concluir muitas coisas. Principalmente este relato.
Reconstituindo toda a minha trajetória até o Egito e com a ajuda de um lindo cristal de quartzo que me foi presenteado por minha amada Maria do Céu, pude reunir a maioria das lembranças e aprendizagens vividas até ali e passei horas seguidas escrevendo.

Escrevendo praticamente vinte horas por dia, em uma semana, sem necessidade de descanso ou de alimento; só de água, ar e luz solar; contando com o amor de meus irmãos e cheio de gozo, finalizei o relato das minhas experiências vividas até aqui.
Seguimos então para Srinagar. 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 42

Saímos cedo do Cairo e chegamos a Mênfis cerca de meia hora depois. Fiquei profundamente encantado com a mais velha capital do Egito. Nasser me levou ao Colosso de Ramsés II, obra que me deixou estupefato:
- Que pensa quando vê isso, Peregrino?
- Penso no poder – respondi.
- E você se coloca acima, abaixo ou na mesma posição desse poder?
- Abaixo.
Ele sorriu e fomos ver a Esfinge em alabastro da 18ª Dinastia:
- Que sente ao ver a Esfinge?
- Poder.
- O seu poder?
- Não. O poder da Esfinge.
Ele sorriu e voltamos para o Cairo.

Na noite seguinte, ele me convidou para darmos uma volta. Afastamo-nos da cidade e quando chegamos a um lugar deserto, saímos do carro e ele se pôs a olhar o céu estrelado por algum tempo:
- É lindo! – Exclamou.
- Muito! – Falei.
- Veja ali... A constelação de Órion.
- Sim.
- O que sente ao vê-la?
Mirei por alguns instantes:
- Luz. Sinto a Luz dela.
- E a sua?
- Aonde você quer chegar?
- Aonde você quer chegar? – Devolveu-me a pergunta com maior ênfase – As estrelas são vistas como Guias porque iluminam a noite e sua posição orienta os viajantes. Você se dá conta de que também é uma estrela? De que tem luz própria?
Fiquei mudo. Ele me abraçou e voltamos para casa sem darmos uma só palavra.

Dois dias depois, levou-me para ver As Pirâmides e a Esfinge de Gizé:
- Você deve estar se perguntando por que estou a te levar cada dia a um lugar diferente e fazendo abordagens para as quais não apresento conclusão alguma, não é?
- Penso que faz parte da sua didática. Sei que quer me levar a refletir sobre o que é posto.
- E você chegou a alguma conclusão?
- Embora eu reconheça o poder que há fora de mim, jamais poderei negar meu poder pessoal.
- Muito bem. Essa é a chave para fazer ruir a pirâmide que faz pouco caso do nosso poder pessoal e penetrar na Mente Divina. Seja bem-vindo à Oitava Dimensão.
Uma Luz muito forte se fez presente a ponto de ofuscar minha visão. Com o tempo, seu brilho se tornou mais sutil e pude enxergar novamente:
- O que há de comum entre uma nota de dólar, um templo maçônico e outras sociedades ditas secretas? – Perguntou-me.
Pensei uns instantes e respondi:
- A pirâmide com o símbolo do “Olho que tudo vê”.
- Bom menino e sabe o que isso significa?
- Acho que significa Evolução Espiritual, Consciência Divina...
- Isso é o disfarce. No fundo este símbolo maldito é um dos maiores ícones da manipulação e do controle da elite. “O Olho” nada mais é que a pretensão que os poderes norte-americanos e as sociedades secretas têm de monitorar o comportamento das pessoas. O Olho está no topo da pirâmide e para ele o que está abaixo está sobre sua tutela e lhe deve obediência. É isso o que você quer para sua vida?
- Não.
Naquele momento surgiu em minha frente uma pirâmide imensa e no topo dela havia o Olho e estava vivo! Ele observava, registrava e vigiava tudo.
- Se quer entrar na Mente Divina, amigo, vai precisar ter coragem de romper com a hierarquia dominante e fazer ruir essa pirâmide que despreza seu poder pessoal.
- Mas ela é tão grande!...
- Quanto maior você fizer o poder da elite, mais ele pesará sobre você. É o povo que dá o poder e não sabe ainda.
À proporção que eu olhava aquela pirâmide e o olho opressor, fui me dando conta de todos os momentos da vida em que me permiti ser manipulado pela família, pela igreja e pelo estado e aquilo despertou em mim um desejo intenso de subversão.
À medida que em me dava conta e minha rebeldia interna despontava, o símbolo da manipulação ia reduzindo o tamanho até ficar da minha estatura. Um jato de luz saiu da minha fronte e destruiu o símbolo nefasto.
- O que tem a dizer sobre a Luz, Peregrino? – Nasser questionou-me
- Defini-la, limitá-la é zombar dela. É zombar da Mente Divina. A Luz não deve ficar confinada nos templos e palácios. Ninguém pode me fazer acessar a Mente Divina além de eu mesmo.
- E como você pode acessar a Mente Divina?
- Amando a natureza e os seres. Tudo o mais é engodo. O sistema e a elite escravizam. O poder está nas mãos de poucos. Não preciso de ninguém que represente meus interesses e seja mediador entre mim e a Divindade, porque eu me assumo como Um Ser Divino.
- Entre em contato com Órion... O que capta da constelação?
- A Federação Galáctica trabalha com meus desejos porque nasci nesse planeta para refletir minha consciência de volta à Luz. E por amar a vida e ser sábio, posso acessar os Conselhos dessa Federação a qualquer momento.
- Aproprie-se da sua mente. Aproprie-se do seu poder e Brilhe!
Vi-me quebrando um enorme ovo e dentro dele estava eu mesmo prestes a renascer. Olhei para Nasser e ele me encarava maravilhado.
- Venha comigo – eu o convidei.
- Nunca cheguei tão longe. É arriscado!
- Que risco pode haver?
- De se atingir uma liberdade tão irrestrita que será insuportável continuar vivendo na Terra.
- Você ainda tem coisas a fazer por aqui? É isso?
- Sim.
- Eu não vou recuar.
- Eu sei. Boa sorte!
Fundi-me a mim mesmo e senti quebrando amarras e limites. Vi-me renascendo cheio de luz, de amor e conhecimento. Vi estruturas opressoras desabando, o poder sendo administrado de forma equânime por todos, o fim das religiões organizadas, a consciência Crística sendo atingida por todos e então me vi aprendendo a lidar com as informações da Lua e das Estações.
A Lua me disse:
- Eu mantenho as memórias de sua alma ao longo da sua jornada e posso lhe ajudar a se auto-curar. Possua-me! E não precisará mais de médicos ou de outras pessoas para lhe curar ou proteger. Conheça meus ciclos e se harmonize com eles. Cada vez que surjo Nova, marco o inicio de uma nova história. Cada vez que minguo, assinalo o fim e preparo um novo começo. Possua-me!
A Lua se tornou uma imensa vagina e ao mesmo tempo em que eu a possui, fui por ela possuído. Atingi um orgasmo sem precedentes e adormeci.
Despertei e me vi cercado pelos Espíritos de cada Estação. Os quatro me saudaram e a Primavera falou:
- Eu sou a Primavera. Sou a Renovação. Manifesto o Inicio de cada ciclo e é no meu reinado que você receberá e realizará o que quiser.
Ela me ofertou uma rosa.
- Eu sou o Verão. Sou o Desenvolvimento de cada ciclo. É no meu reinado que você e os seus desejos tomarão forma e crescerão.
Ele me ofertou uma chama num prato de ágata.
- Eu sou o Outono. Sou a Conclusão do ciclo. É no meu reinado que você fecha os vórtices que abriu na Primavera.
Ele me deu uma romã.
- Eu sou o Inverno. Sou a Contemplação do que foi vivido. Convido-o para a sua própria caverna a fim de que hiberne com a Mãe Ursa e reveja toda a caminhada para que possa dar passos mais luminosos no novo tempo que sempre estará surgindo.
Ele me deu uma taça com água.
Com os presentes das Estações fiz um altar e sentei entre eles e ouvi minha mente, a Mente Divina:
- O que está aqui dentro cria a realidade externa.
Deu-se nova explosão de luz e eu caí em sono profundo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 41

No dia seguinte, ele teve alta e nós fomos para o seu apartamento, um quarto e sala simples e aconchegante que ficava num bairro popular. Conversando com meu novo amigo, descobri que ele trabalhava no Museu do Cairo, o que me deixou deveras interessado.
Conheci Hadhyja, sua vizinha, e os filhos dela. Pessoas adoráveis!
Enquanto Nasser convalescia, cuidei dele e aquilo estreitou mais os laços entre nós. Certa noite, enquanto tomávamos uma sopa que preparei, aconteceu a seguinte conversa:
- Você é muçulmano, Nasser?
- Não. Sou árabe, nasci e me criei numa família islâmica, mas hoje em dia prefiro ser holístico. Minha religião é o Amor.
- Como eu, como Maria do Céu...
- É impossível conviver com aquela mulher e não operar uma mudança significativa na vida.
- Você viveu com ela?
- Sim. Durante três anos fomos amantes. Ela não te disse?
- Não.
- Com ela, acessei as Nove Dimensões. E você?
- Só a Sétima. Já tinha acessado outras pelos lugares onde passei.
- E por que ela não o conduziu até a Nona? Por que me pediu para eu ser seu Guia na Oitava?
- Não sei.
- Coisas dela ou do seu caminho?
- Talvez de ambos.
- Você também foi amante dela?
- Fui.
- É impossível não se apaixonar por Maria do Céu!
- Com certeza.
- De qualquer forma, penso que você é um grande presente que ela me enviou. Seria difícil para eu passar por essa fase sem alguém para cuidar de mim.
- E você também é um presente para mim. Diante do que me aconteceu na chagada, não sabe como foi bom saber que eu fui levado para o mesmo lugar em que você estava, ainda que estivéssemos doentes.
- O Universo conspira a nosso favor, sempre.
- Tenho constatado isso.
Contamos histórias nossas e a conversa rolou até a madrugada.
Duas semanas depois, Nasser voltou a trabalhar e me levou ao Museu. Fiquei angustiado com a loucura do trânsito da cidade. Quando ele percebeu meu desconforto, disse-me que eu aguentasse firme, pois quando chegássemos ao museu, tudo iria ficar bem:
- Todo mundo sabe sobre a História antiga do Egito, mas você conhece a história do Cairo?
- Não.
- Então vou contá-la para suavizar essa tortura que precisamos viver no momento.
- Boa ideia, amigo!
- Vê! Eis o Nilo.
Passávamos por uma margem do famoso rio naquele momento e eu me emocionei. Pensei em tantos fatos históricos e dramas que o Nilo testemunhara com o passar dos anos...
- O Cairo é o lugar do mundo todo. Cidade de todas as culturas, de contrastes, plural... Foi fundada em 969 para ser a capital do Egito árabe. Anos depois foi tomada pelos turcos e mais tarde ocupada pelos franceses. Como você pode ver, nossa raiz é totalmente plural.
- Como a do Brasil.
- Sim.
Ele me fez um relato de vários aspectos da cidade e de monumentos e locais aos quais me levaria em suas horas de folga. Nossa conversa desviou minha atenção do trânsito congestionado e apesar de termos demorado a chegar ao Museu do Cairo, fiquei bastante descontraído.
Chegamos à Praça do Tahrir e ele falou:
- Aqui está meu Museu, Peregrino. Seja bem-vindo.
Ele estacionou o carro e nós adentramos no local.
- Isso aqui foi construído há muito tempo, não?
- Não. Por incrível que pareça, é recente. Não se esqueça que o antigo e o moderno convivem aqui sem maiores problemas. Construíram isso aqui em 1902.
- Interessante! E desde quando você está aqui?
- Há dois anos.
Ele me mostrou coisas maravilhosas e dentre muitas que me deixaram impressionado, uma me chamou mais a atenção: a ossada de um ser, com cerca de dois metros de altura, cujo crânio era sensivelmente alongado:
- Nasser, vejo que é a ossada de um humano, mas por que essa deformação na parte craniana?
- Não é deformação.
- E do que se trata? É incomum...
- Esse alongamento é uma característica comum de um descendente direto de alienígenas. Assim como Akhnaton e sua irmã e consorte Nefertiti, que segundo os anais da História Iniciática, tinham quatro metros de altura cada e essa mesma estrutura óssea.
- Interessante! Esse tipo de ossada só foi encontrada aqui?
- Não, mas também em escavações no México e no Peru. No Museu de Lima você também pode ver uma semelhante.
- Não estive no museu de Lima.
- É uma pena, mas pelo menos está vendo uma bem aqui.
- Verdade. Por quanto tempo Akhnaton e Nefertiti reinaram no Egito?
- Por 17 anos. Foi um tempo bom no qual eles plantaram a noção de um Deus Único no Universo e mantiveram a paz. Tiveram quatro filhos sagrados e criaram uma Escola Iniciática que futuramente se tornou, em Israel, O Colégio dos Essênios, onde Maria e José, pais de Jesus se iniciaram e mais tarde, Ele e Maria Madalena, sua mulher.
- Então tudo começou aqui...
- Quase tudo... Na América também há indícios de um começo bastante longínquo.
- É verdade... Quando acessarei a Oitava Dimensão?
- Amanhã iremos a Mênfis. Quero que você veja uma coisa lá.
Percebi que por algum motivo ele não quis responder a minha pergunta e mudou de assunto. Resolvi respeitar sua reserva. Oportunamente eu voltaria a falar sobre o assunto.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 40

Algum tempo depois, ela retornou:
- Localizei seu amigo.
- Que bom! Entrou em contato com ele?
- Não foi possível. Está internado?
- O que ele tem?
- Segundo me informaram, teve uma crise de apendicite aguda e precisou ser operado às pressas ontem. Por isso você não o encontrou e penso que se não fosse pelo assalto custaria a encontrá-lo. Procurei por ele na lista telefônica e entrei em contato com uma vizinha que me informou seu paradeiro. Ele mora só. A Divina Providência age muitas vezes através dos reveses a fim de nos direcionar no caminho certo.
- Quando poderei vê-lo?
- Até agora, se quiser. Você já está liberado e Nasser está aqui no hospital.
- Maravilha!
Ela me devolveu a mochila, eu lhe agradeci por tudo e fui conduzido por ela até o quarto onde Nasser estava:
- Bom dia, Nasser! Como está? – Ela o cumprimentou.
- Bem melhor! – O belo árabe me olhou curioso.
- Este amigo veio lhe fazer uma visita.
Nasser sorriu e perguntou-me:
- Quem é você?!
- Gilberto, amigo de Maria do Céu.
- Salamaleco! Seja bem-vindo, amigo!Ela me telefonou avisando que você viria... Como me achou aqui?
- Foi a Divina Providência quem me trouxe. Fui assaltado, ferido e alguém me trouxe para cá e minha amiga Rebeca me deu uma grande ajuda.
- Obrigado, Rebeca... E como está?! – Indagou-me chocado.
- Agora estou bem.
- Estava escrito.
- Vou deixá-los a sós – disse a bondosa enfermeira – Se precisarem, me procurem.
Agradecemo-la e ela se foi.
- E você, Nasser? Como está?
- Agora melhor, pois tenho um amigo para me fazer companhia.
- Vai ser um prazer ajudá-lo. Não tem família aqui?
- Não e tudo foi muito rápido! A pessoa que é mais próxima de mim é minha vizinha e tem dois filhos para criar. O marido morreu há um ano.
- Acho que foi ela que disse a Rebeca do seu internamento.
- Estou certo disso.
- Quando receberá alta?
- Se tudo correr bem, amanhã.
- Ficarei com você.
- Isso é muito bom!
Meu novo amigo aparentava ter a mesma idade que eu. Era belo e encantador com seus olhos expressivos e seu sorriso largo. Eu me senti acolhido por ele. Estava seguro.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 39

CAPÍTULO VI

CAIRO

“Em vez de cabelos trançados, teremos turbantes de Tutankhamon”.
Carlinhos Brown.

Havia grande movimento no aeroporto da capital egípcia e me senti um tanto sufocado. Tentei telefonar para Nasser, mas não obtive resposta. Chamava e ninguém atendia. Dei um tempo no aeroporto, visitei lojas, observei pessoas e voltei a ligar várias vezes sem sucesso. Eu precisava pensar em algo, arranjar um lugar para pernoitar e continuar tentando entrar em contato com o amigo de Maria.
Comprei um guia de hotéis e como tinha pouco dinheiro, procurei os mais baratos. Além da minha mochila, eu levava uma mala que Maria do Céu havia me presenteado e nela estava todo o dinheiro que me restava e algumas roupas que ela também me deu.
A noite caía e eu decidi procurar pelo hotel que mais se adequava à minha situação. Estava louco para esticar o corpo e dormir um pouco, só que algo inesperado aconteceu: fui abordado por dois homens num assalto. Eles queriam a mala! Instintivamente tentei segurar meu pertence e recebi um soco na cara e senti uma dor fria na barriga. Caí no chão, eles pegaram a mala – que não era grande – e saíram correndo. Quando toquei no lado do abdome, senti algo escorrendo: era sangue. Um dos assaltantes havia me furado com alguma arma branca. Perdi os sentidos.

Acordei sentindo-me mal e fraco no dia seguinte. Uma jovem e bondosa enfermeira me tranquilizou e pediu que eu permanecesse quieto, pois naquele momento estava tudo bem. Perguntei-lhe se havia morrido. Ela sorriu e disse que aquilo ainda iria demorar de acontecer e que eu não me preocupasse com minha mochila, pois estava com ela. Eu estava na emergência de um hospital.
- Felizmente a perfuração foi superficial. Fiz um curativo e você ficará logo bem – acalmou-me. – Olhei seus documentos... Que faz aqui, brasileiro?
- Uma peregrinação.
- É muçulmano?
- Não. Cigano. Como se chama?
- Rebeca.
- É um prazer conhecê-la, Rebeca, eu sou...
- Gilberto.
- Isso mesmo.
- Quem é Nasser?
- Um amigo de uma amiga. Ela me deu o telefone dele... Disse que ele mora aqui no Cairo, mas não consegui manter contato.
- Vi o papel que está com o nome e o telefone dele no seu bolso e quando você estava com febre, chamou várias vezes por ele e por Maria.
- Você poderia localizá-lo para mim?
- Vou ver o que posso fazer.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 38

Nos dias que se seguiram, vivemos de amor e sabedoria. Ela me falou do Arquétipo do Macho Alquímico e da Noiva Sagrada e fizemos correlações mitológicas interessantíssimas entre Jesus-Osíris-Orfeu-Logos e Maria Madalena-Ísis-Eurídice-Sofia. Não fizemos as correlações baseados em fatos históricos, mas tão somente no mito, que é a história repetida com o passar do tempo em locais e com personagens diferentes num padrão arquetípico, e foi interessante estabelecer paralelos, por exemplo, entre Jesus e Osíris. Ambos, mitologicamente, trazem a tônica do Macho Ferido – e morto – e justamente tal sacrifício deixa para a humanidade o legado da morte e do renascimento.
Como Ísis reúne as partes de Osíris e o sepulta, Maria Madalena acompanha Jesus até o final do martírio e é a primeira a vê-lo após a Ressurreição – segundo o mito bíblico; e também segundo este mesmo mito, Jesus resgata Maria Madalena do “pecado”; assim como Orfeu vai em busca da amada no Inferno e o Logos desce dos céus para resgatar Sofia das paixões mundanas . A União Sagrada traz a Luz.
O masculino e o feminino se juntam para se salvarem porque ambos são igualmente fortes e complementares. Um sem o outro não faria sentido.
Conhecer Maria do Céu foi uma das melhores coisas que aconteceram em minha vida.

Com Maria fui a encantadoras Casas de Fado e me deleitei nas noites lusitanas. Tudo entre nós era bastante divertido. Ela me levou a outros lugares da Europa: conheci Paris e me apaixonei por aquela cidade estranha; em Roma, fiquei maravilhado com tanta arte espalhada pelas ruas e em Madri nos deliciamos em tavernas onde dançavam flamenco.
Eu suguei de cada instante o néctar. Os beijos doces e quentes de minha amada me faziam mais homem, mais deus... Fazer amor com ela era transcender a transitoriedade do orgasmo e a sensação de prazer se prolongava por dias e se juntava às doçuras de novos orgasmos, tornando-se bônus de prazer.
Vivemos nesse sonho por três meses.
Até que senti o vento querendo me levar da agradável Sintra e do aconchego daquela mulher inigualável. Ela também o percebeu e quando menos esperei me presenteou com uma passagem para o Cairo. Ela sabia do meu itinerário. Também me deu um papel dobrado com um nome e um número de telefone:
- Chegando lá, ligue para esse homem. Nasser é um amigo de longas datas. Há muito que não nos vemos... Diga-lhe que mando um forte abraço. Ele será um ótimo Guia para você.

Naquela tarde de domingo, demo-nos beijos doces e demorados no aeroporto de Lisboa e nos despedimos:
- Foi muito bom ter vivido contigo, Maria.
- Foi não. É. Estaremos unidos para sempre, Peregrino.
- Ainda nos veremos?
- Não mais neste mundo.
- Sinto que meu tempo aqui é curto. Mais cedo ou mais tarde estarei me cansando deste corpo abençoado que tenho e o deixarei se transformar em adubo ou comida para peixe.
Rimos.
- Jamais morreremos, Cigano.
- Jamais.
Com lágrimas nos olhos, ouvimos a chamada para o embarque. Mais um abraço apertado e um beijo calmo e sem palavra alguma nos separamos e eu parti para o Egito.