quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 44

CAPÍTULO VI

SRINAGAR

“Trilhar as estradas que não trilhei, seguir os ventos que clamam por mim. E assim minhas mãos saberão dos meus pés e assim renascer, e assim renascer”.
Altair Veloso

Não havia forma melhor de começar o último capítulo dessa história. Agora que me sinto tão próximo do Nascimento. Lembro-me de um poema lindo de Mário Quintana, “Inscrição para um portão de cemitério”:

Na mesma pedra se encontram
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela
Quando se morre – uma cruz
Mas quantos que aqui repousam
Hão de entender-nos assim
“Ponham-me a cruz no princípio
E a luz da estrela no fim.

Sinto-me assumindo meu verdadeiro brilho e isso é a glória!

Estamos todos hospedados na casa aconchegante de Maya. Ela é uma pessoa divina. Uma mulher sábia e amorosa que acolheu a todos nós. É morena e tem um olhar bastante expressivo e amável.
 A energia daqui é boníssima! No jardim da casa tem um encantador templo consagrado à Deusa Kali e eu passo horas contemplando sua imagem, tendo insights interessantes sobre muitas coisas, dentre elas, as origens do povo cigano. O que me chamou a atenção foi o altar onde fica a imagem. Ele tem a dimensão de uma cama convencional e é forrado por um grande lençol branco. Achei o altar desproporcionalmente imenso para o tamanho da imagem, mas tudo bem.
Numa viagem astral, pude ficar bem pertinho da minha filha e fiquei profundamente agradecido pela oportunidade. Sara é um raio de luz!
Eu e Nasser fechamos nosso ciclo como amantes com leveza e maturidade, pois eu sentia que mais cedo ou mais tarde me envolveria com Maya.

Numa tarde, a sós com ela no Santuário, conversamos:
- Sou sua Guia para a Nona Dimensão.
- Sei disso.
- Preciso saber qual será sua escolha após acessá-la: voltará ou não?
- Não. Quero partir.
- Coube a mim a parte mais delicada da missão, mas é uma honra recebê-lo no melhor estado de si mesmo. Você está tão sutil que sua próxima relação sexual poderá ser a última nesse corpo.
- Explique-me.
- O orgasmo é a passagem. Quero lhe explicar algumas coisas sobre a Nona, mas o grande acesso se fará quando você mantiver o coito com alguém por quem sinta amor e que o ame.
- Você me ama?
- Mesmo antes de conhecê-lo. Eu já sabia que você viria e qual seria o meu papel.
- Escolho você para me ajudar na passagem.
- Você me ama?
- Desde que a vi.
- Não é só paixão?
- E que mal há na paixão?
- Nenhum. Sem a chama não há a brasa da fogueira. A paixão é a raiz de tudo. O amor é a consequência.
- Para mim é só um jogo semântico. Ama-se simplesmente e pouco importa o tempo, o espaço e as condições.

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