domingo, 6 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 46

É noite e não tenho sono. Gosto de escrever. Gosto de estar entre eles. De vez em quando sinto uma saudade antecipada... Mas para que saudade se sempre estaremos ligados? Para que dor, se nada nos separará – nem minha partida?

No dia seguinte, eu me sentia mais forte e Maya sugeriu que déssemos um passeio peça exótica Srinagar. E foi maravilhoso!
Apaixonei-me pela suntuosa capital de Caxemira. Meu olhar se perdeu várias vezes mirando aquelas montanhas nevadas. Vontade de escalá-las e quando chegasse ao topo, abriria os braços e saltaria para um vôo sem limites... Os vales verdejantes, as flores e o mágico rio Jhelum me encheram de vida. Durante todo o tempo, eu me sentia fazendo um ritual de despedida desse planeta sagrado. E o que me emocionou foi o fato de eu não conseguir mais me lembrar de fatos desagradáveis da minha existência. Em minha memória havia delícias e as poucas recordações amargas que estavam no livro da minha vida não me causavam peso, porém tão somente o valor das aprendizagens que tais experiências causaram em mim.
Conheci os lagos Dal e Nagin, bem como os encantadores canais. Encantei-me com as casas flutuantes que ficam sobre as águas e o comércio feito através de canoas, as Shirakas, que levavam nas portas das casas frutas, flores, alimentos, remédios, artesanato. Que coisa bonita! Tudo aqui é tão etérico, que mesmo caminhando é como se eu estivesse volitando constantemente. Ou sou eu que estou muito sutil? Ou é tudo, dentro e fora de mim que me deixa assim tão... Leve?
- Eu gostaria de levá-los a Ladakh, mas tenho receio pelo estado de Gilberto – falou Maya num determinado momento do nosso passeio.
- É muito longe? – Perguntei.
- Bastante.
- Por que queria nos levar lá? – Perguntou Nasser.
- Suas pequenas aldeias ficam nas montanhas e lá existem mosteiros de lamas. É um lugar interessante e desolador, cheio de pedras e cascalho... Essencial para encontrarmos nossas próprias ilusões.
- Vocês podem ir e eu fico – propus.
- Não! – Disse Coiote com veemência – É nosso dever e vontade ficar ao seu lado o máximo que pudermos até o momento da passagem. Teremos todo o tempo do mundo para irmos a Ladakh.
- Concordo – Maria do Céu fechou a questão.
- Isso aqui é o paraíso, Maya! – Exclamei – Um bom lugar para se morrer.
Todos riram.
- O imperador mongol Jehangir também disse isso, mas aqui também há os senões. A taxa de analfabetismo aqui é alta e isso é um grande problema para a formação da consciência das pessoas e ainda que aqui seja um lugar exuberante, há muita miséria. A eterna dualidade terrena! – Falou Maya.
- Que um dia haverá de se equilibrar – profetizou Chencha.

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