quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 43

Acordei sete dias depois em casa de Nasser e tive uma grata surpresa: Clara, Richard, Chencha, Coiote Vermelho e Maria do Céu também estavam lá e me acolheram com muito carinho:
- Pensávamos que você não ia voltar – disse Nasser.
- Nenhum de nós foi tão longe – falou Clara – Você é louco!
- E agora, amigo? O que vai fazer? Continuará a viver aqui no planeta? – Questionou-me Richard e eu sorri.
- Como todos vieram parar aqui? – Perguntei.
- Nasser fez contato com Maria do Céu, que encontrou Coiote, que contatou comigo e aí foi fácil localizar Richard e Clara – falou Chencha.
- E por que vieram?
- Porque nós o amamos e queremos ficar ao seu lado, viver esse amor até o momento da sua partida – falou Coiote.
- Queremos ir contigo para a Índia. Pelo que sabemos, lá será sua última parada aqui na Terra – falou Maria do Céu.
- Então vamos. Mas antes quero passear mais pelo Egito e descansar. Sinto-me exausto.
- Seu corpo está muito sutil – disse-me Nasser amavelmente. – Precisa se poupar.
Apertei sua mão e voltei a dormir.

Quando acordei, os outros já haviam partido para o hotel e meu bom amigo Nasser estava ao meu lado:
- Como está? – Perguntou-me.
- Sinto-me estranho. É como se não tivesse mais corpo físico. Tudo está tão leve, que pareço nem sentir mais a força da gravidade. Por que Richard me questionou se eu ainda iria querer viver no planeta?
- Sua entrega na cópula com a Lua e com o Cosmos foi muito intensa. Quando alguém se predispõe a viver algo assim é normal que não suporte viver mais aqui. Reconectar-se plenamente com a Mente Divina é transcender todos os limites e condições impostas pelos códigos terráqueos. Talvez você consiga ainda viver algum tempo entre nós, mas penso que mais cedo ou mais tarde, partirá. Foi por isso também que todos supomos que Srinagar será sua última parada.
Afaguei a face de Nasser e ele corou. Senti um imenso amor por ele e o beijei. Envolvemo-nos em nossos braços e trocamos carícias deliciosas:
- É uma pena eu só poder ter te conhecido agora – Lamentou-se.
- Por que, meu querido?
- Porque eu adoraria passar mais tempo contigo e sei que isso não será possível. O que me conforma é saber que nesse momento eu tenho o melhor de você.
Desejar Nasser e viver aquele instante mágico com ele me deixou mais “plantado”. Entregamo-nos de corpo e alma e através da paixão vivemos êxtases profundos. Na cama com Nasser, eu me sentia fazendo amor com o todo o Universo. E foi tão maravilhoso que por pouco não deixei meu corpo para sempre.
No dia seguinte, meus amigos voltaram à casa de Nasser e vivemos momentos de alegria. Eu ainda me sentia depauperado, porém a presença deles fazia com que eu renovasse minhas forças. Perguntei a Clara por nosso filho e ela me respondeu:
- Está lindo e crescendo. Trouxe uma foto dela.
- É uma menina?
- Sim. Seu nome é Sara.
- A Padroeira do meu Povo! A Filha de Jesus!
Ela meteu a mão na bolsa, tirou um envelope e mo deu:
- Tome, é sua.
Ansioso abri o envelope e puxei a foto. Fiquei emocionado com a imagem da minha filha. Era um bebê lindo. Como eu quis carregá-la em meus braços! Sentir seu cheiro! Brincar com ela! Mudar as fraldas! Dar comidinha... Fiquei abobalhado contemplando aquele ser divino até Clara me pedir para ler o que estava no fundo. Eu o fiz e dizia assim:

“Ao meu papai querido e cigano, ofereço meu amor e minha amizade.
Te amo,
Sara.
1 ano e nove meses”.

Caí no choro:
- Com quem ela ficou?
- Com uma amiga.
- Quem?
- Minha atual companheira.
- E ela não se zangou com sua vinda?
- Não. Guadalupe foi quem mais me estimulou a vir.
Eu sorri, olhei a foto e quis gravar a imagem daquela criança linda. Sangue do meu sangue!
- Ela é Iluminada! – Exclamei.
- Com certeza! – Falou a mãe da minha filha – Ela herdou nossa loucura.
Ainda comovido, perguntei a Richard sobre como ia a vida dele.
- Tenho me encontrado sempre com Emmanuel e ele ficou feliz ao saber que iríamos nos reencontrar e mandou muito amor para você.
- Que bom! Como está ele?
- Continua semeando amor.
- Ele é muito lindo!
- Amo conviver com ele!
- Que bom, meu amigo! E você, minha Chencha, como vai? – Perguntei.
- Por estar revendo você, Coiote Vermelho e conhecendo tanta gente bonita, estou ótima, meu amigo.
- Tem notícia de Luiz?
- E como tenho! Ele abriu uma lanchonete que se tornou um dos locais mais frequentados da cidade. Sempre vou lá e relembramos sua passagem pelo México.
Rimos.
Coiote me contou haver voltado para o México e falou-me bem dois amigos que deixei em Sidney.
Maria do Céu presenteou-me com um cálice de argila. Fiquei muito feliz por estar com eles todos. Falamos das minhas histórias, das deles e demos boas gargalhadas.

Refeito e devidamente “aterrado” fiz passeios gostosos com meus amigos: brincamos nas margens do Nilo e fizemos Rituais de Fertilidade; fomos a Sakkara, a cidade dos mortos dos tempos faraônicos e vivenciamos momentos de Poder Pessoal muito fortes; fomos ao Museu Copta e eu me embriaguei de tanta beleza e informação; conheci a Árvore da Virgem em El Mataryia, onde segundo a tradição, descansaram Jesus, José e Maria; encontramo-nos com nossas raízes islâmicas na mesquita de Mohamed Ali e finalizamos nosso tuor no Museu Egípcio, que encerra o tesouro do Faraó Tutankhamon.
A convivência com todos foi algo terno e aconchegante. Eu me sentia pleno por estar entre pessoas que muito amava e que viveram momentos de intimidade tão verdadeiros comigo e por estar vivendo aquilo, naquele momento com Nasser. E o mais bonito era que todos com quem eu havia “casado” partilhavam o amor e a amizade comigo e meu novo parceiro. Sem ciúmes, sem falsidades. O amor bastava e estávamos felizes.
Com o tempo, foi acontecendo comigo o que eles me disseram: a sutileza foi me tornando mais sensível e vulnerável. Eu só me sentia verdadeiramente bem quando estava protegido por meus seis amores e no meu interior começou a surgir uma imensa necessidade de ir embora.
Certo dia, Nasser recebeu um telefonema e nos contou que uma mulher chamada Maya havia sonhado conosco e que ela nos esperava em Srinagar, porque eu não tinha mais muito tempo e precisava concluir muitas coisas. Principalmente este relato.
Reconstituindo toda a minha trajetória até o Egito e com a ajuda de um lindo cristal de quartzo que me foi presenteado por minha amada Maria do Céu, pude reunir a maioria das lembranças e aprendizagens vividas até ali e passei horas seguidas escrevendo.

Escrevendo praticamente vinte horas por dia, em uma semana, sem necessidade de descanso ou de alimento; só de água, ar e luz solar; contando com o amor de meus irmãos e cheio de gozo, finalizei o relato das minhas experiências vividas até aqui.
Seguimos então para Srinagar. 

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