quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 47

De volta à casa de Maya, banhamo-nos, descansamos, ceamos e mais tarde nos encontramos no templo de Kali. Estávamos todos sentados em círculo. Havia música tranquila, incenso, flores, velas acesas e frutos:
- Escolhi esse lugar para falarmos da Nona Dimensão – disse nossa anfitriã.
- Excelente escolha! – Disse Richard beijando-lhe a mão. Estava ao lado dela.
- Antes de darmos asas ao nosso intelecto – continuou Maya – proponho vivermos uma experiência. Penso que dessa forma, falaremos com maior profundidade sobre essa dimensão.
Todos concordamos.
Ela pediu que fechássemos os olhos e que ficássemos na posição mais confortável que quiséssemos. Alguns ficaram sentados; outros deitaram, como eu.
- Sintam a Nona Dimensão. Sintam apenas com seu Eu Pleno e Divino...
Cada um de nós, com menos ou mais informações sobre a dimensão, nos concentramos e procuramos sentí-la. Fui tomado por um forte calafrio e aos poucos comecei a perceber que as partes do meu corpo estavam sendo todas atraídas para o meu centro. Minhas extremidades iam se encolhendo aos poucos e tive a impressão enlouquecedora de que estava desaparecendo. Num dado momento, eu havia me tornado um imenso vazio e estava consciente daquilo e continuava com minha essência, com minha consciência!
Tornei-me então um imenso Buraco Negro e passei a exercer forte atração sobre tudo que estava dentro e fora de mim. Experimentei uma sensação maluca de infinitude quando me senti sendo respirado, tragado pelo Cosmos.
Desloquei-me para o centro da galáxia e me transformei nela. Vi-me só e pleno. Nunca havia me sentido tão verdadeiramente livre...
Até que comecei a me sentir esvaindo e senti um toque em minha testa, depois as mãos dos meus amigos tocando meu corpo:
- Peregrino, você já quer partir? – Ouvi a voz de Maya bem ao longe.
- Não sei... É tão bom! Não sinto quase nada... – respondi.
- Escolha. Se quiser partir, diga, que nós retiraremos nossas mãos de você e a passagem será feita.
Senti uma força extraordinária me atraindo, mas estava dividido. Não queria ir daquela forma. Não sem antes me despedir de meus amores e foi assim que voltei e apaguei.

Momentos depois eu despertei e todos me olhavam amorosos:
- Bem-vindo, Cigano! – Saudou-me Coiote – Por pouco iria embora e nem ia dar-nos um beijo de despedida.
- O que aconteceu?! – Perguntei meio zonzo.
- Você se transformou numa Usina de Energia e causou maravilhas em todos nós – respondeu Clara. – Por ter acessado tamanho nível energético, quase nos deixou.
- Sua presença aqui na Terra está por um triz – disse-me Nasser num misto de alegria e tristeza.
- O que tem a nos dizer da Nona Dimensão, Cigano Peregrino? – Perguntou-me Maya.
- É um vasto Buraco Negro no centro da nossa galáxia. É lindo! – Respondi.
- Você é muito doido! – Exclamou Maria do Céu – Sempre vai longe demais.
- E por ter sempre ido tão longe, chegará um momento em que não terá mais volta – queixou-se Chencha.
- Por que não vêm comigo?! Há tantos mundos para desvendarmos...
- Quem sabe um dia nos encontraremos pelas esquinas do Infinito! – Falou Maria do Céu – Mas nesse momento eu ainda quero ficar por aqui.
- Você é senhor absoluto de sua vida e do seu caminho – disse-me Coiote – Siga-o.
- Que mais pode nos dizer?! – Questionou-me Richard afoito – Tenho dificuldade em definir um Buraco Negro. Se é que seja possível definí-lo...
- Precisamente eu não sei o que dizer – falei.
- Eu posso lhe ajudar, Richard – falou Maya. – Um dia uma estrela teve um grande colapso! – Falou de forma teatral, divertindo-nos – E desse colapso, formou-se um Buraco Negro e ele possui uma gravidade tão intensa que não permite a vazão de luz alguma do seu interior.
- Percebi que ele é um núcleo gravitacional que se manifesta em ondas de tempo. Tudo no Universo se desenvolve a partir de centros. É impressionante! – Relatei embevecido.
- O que está acontecendo e a maioria dos humanos não percebe – falou Clara – é que o poder energético desse imenso centro de força está ativando nossos corpos e mentes. Tudo está mudando em velocidades diferentes para cada caso. Nosso metabolismo, nossos valores, relações, crenças, trabalhos, família.
- A nossa galáxia é como uma gigantesca água-viva de fótons que goza e cria o tempo todo eternas ondas em seu campo magnético – Explicou Maya – Tudo está mudando, como falou Clara, e isso se estende além dos humanos. Todas as formas biológicas, todas as energias estão se transformando. E estão se formando frequências tão elevadas na Terra, que os humanos estão deixando de ter carbono em sua estrutura e estão começando a incorporar a sílica na mesma.
- E o que isso significa? – Perguntei.
- Iluminação em todos os aspectos. Leveza e transformação molecular. Transcendência da Mulher para a Super-Mulher, do Homem para o Super-Homem – respondeu Maria do Céu.
- E o que isso significa? – Questionou Clara.
- Que todos enfim poderemos fazer apenas o que nos fascina – respondeu Maya. – Que o prazer estará em todas as realizações e será um bem comum. Que não precisaremos fazer mais nada forçados ou obrigados; que nos curaremos de todas as nossas marcas dolorosas e traumáticas.
- Fantástico! – Exclamou Richard secando os olhos.
- Percebi algo estranho na minha viagem – Comentei. – Vi superaglomerados se afastando de nosso planeta, deixando-nos numa posição aparentemente estratégica. Acho que estamos no centro dos acontecimentos. No centro de tudo!
- Há um propósito para isso – esclareceu Maya. – Quando um Buraco Negro se forma, ele é tragado numa espécie de funil, constituído pela curvatura do espaço-tempo. Quando você for tragado por esse funil, Cigano, será esmagado numa densidade cada vez maior, tornando-se uma Usina Energética, ou seja, uma Singularidade Cósmica e Biológica que será reduzida a um ponto de tamanho nenhum e assim reaparecerá em outro Universo. Agora imagine não só você sendo tragado, mas todo um planeta... Por isso os aglomerados estão se afastando. Ainda não será o momento deles de passar para outro Universo.
- Como se processará a minha passagem? – Perguntei.
- Primeiro você cairá no Buraco Negro – respondeu-me Maya. – Aí a diferença entre a atração gravitacional entre seus pés e sua cabeça será tanta que você será esticado e se assemelhará a um cordão de elástico. Depois você entrará no Horizonte de Eventos e aí não mais voltará nem entrará mais em contato conosco. Transcenderá o tempo e o espaço e começará a se aproximar da Singularidade, tendo seus átomos se estilhaçando. Tudo o que você terá sabido sobre o Cosmos entrará em colapso e Zás!... Você fará parte de um novo universo.
- Sentirei a falta de vocês! – disse emocionado e confuso. Eu não sabia mais o que eu queria depois daquele esclarecimento.
- Consulte a si mesmo e veja se está pronto – aconselhou-me Maria do Céu.
Pedi licença e retirei-me para o meu quarto.
Passei a noite em claro pensando nos prós e contras do ir e do ficar. O apego aos meus laços afetivos era forte. Eu sabia que de alguma forma ficaria ligado a todos eles, mas estava temeroso. Só que quando me lembrava da experiência de ser atraído pelo Buraco Negro, meu ser se rejubilava e eu me sentia fortemente inclinado a partir.

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