terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 33

Fui trabalhar pela manhã, que era folga de Bruce. Achei bom não tê-lo visto àquele dia, pois saí às 14h00 e ele pegou serviço às 15h00. Coiote me pegou na lanchonete e fomos relaxar no Museu Marinho:
- E aí, como está?
- Sobrevivendo. Superando.
- No seu lugar eu não seria tão nobre.
- Como?!
- Eu não teria estômago para ainda conversar com os putos.
- Mas eles não...
- Não importa!... É claro que eu pegaria minhas coisas e cairia fora, mas acho que não falaria nada.
- Eu os amo.
- Sim. Eu também continuaria amando-os, só não seria tão diplomático.
- Eu me desconheci. Eu tinha exatamente a clareza do que devia fazer. Sentia uma segurança e um amor por mim mesmo tão fortes, que me senti o tempo todo no meu eixo, até nos instantes mais difíceis.
- Isso é Samadhi!
- É.

Depois fomos ao Zoológico e me encantei com os coalas, os cangurus, ornitorrincos e outros bichos. Animais belos e exóticos que me causaram grande alegria.
- Olhe para esta árvore – mostrou-me o vegetal onde alguns coalas estavam – O que vê?
- Uma árvore.
Rimos.
- Não, doido! Observe atentamente a estrutura dela e me diga o que vê.
- Caule, folhas, galhos, um pouco das raízes...
- E o que vê nelas?
Apurei meu sentido da visão e percebi que meu amigo queria me levar para mais além. Imaginei que ele queria me conduzir a enxergar as estruturas microscópicas da árvore, mas aí tive um insight e comecei a ver formas geométricas ao longo de toda a estrutura da árvore. Contemplei o tronco e sua forma cônica, o formato das folhas, dos galhos, das raízes e em seguida passei a ver as formas geométricas de tudo o que estava ao meu redor.
- Vejo a Geometria Sagrada que habita em tudo – respondi.
- Que bom, rapaz! Essa é a porta de entrada para a Sexta Dimensão.
- Como assim? – Questionei.
- Espere e verá. Concentre sua atenção num urso coala.
Eu o fiz e vi a circunferência dos seus olhos, do seu rosto; vi a forma triangular das suas garras; a retangular das pernas e braços e logo enxerguei várias possibilidades geométricas em meu amiguinho. Na minha viagem, lembrei-me de pinturas cubistas e comecei a desmontar as formas geométricas da imagem do animal e recombiná-las em formas novas, constituindo assim novos seres. Alguns saíram bem bizarros, mas não importava a lógica, e sim o poder que descobri de moldar a imagem daquele ser de infinitas formas.
Olhei para Coiote Vermelho sorrindo e o percebi também em formas geométricas.
Ele sorriu para mim e disse:
- Bem-vindo à Platonia, meu caro! Você está na Sexta Dimensão.
- Explique-me melhor... – Pedi.
- Aqui é o Reino das Formas Geométricas. É o Terreno da Geometria Sagrada.
Todas as coisas foram voltando “ao normal”, mas minha percepção das formas se tornou mais aguçada. Percebi que elas se replicavam nos seres e coisas que habitam na Terceira Dimensão.
- Quem é você, Peregrino?
A pergunta de Coiote causou-me um estranho torpor. Senti minha memória sendo ultra-ativada e me vi em Stonehenge, só que eu era uma mulher e estava em outro tempo, participando de um Ritual Celta. Eu me via participando de uma Iniciação na Celebração do Equinócio de Primavera e depois fazendo amor com um homem.
Em seguida, me vi na Pirâmide de Kukulcan, no México, vivendo outra Iniciação, como homem e milhares de outras imagens, outros flashes me mostraram com diferentes roupagens, em diferentes encarnações e regiões cósmicas vivendo processos iniciáticos fortíssimos. Vi-me em Daomé me iniciando no Candomblé; na França, me iniciando na Maçonaria; no Egito, na Rosa Cruz; como monge num mosteiro Tibetano; numa Escola Teosófica; no Colégio do Essênios; na Gnose; em Istambul; na Grécia... Depois senti o toque de Coiote em meu tórax e o ouvi dizendo:
- Retorne, Peregrino.
Voltei àquele agora e perguntei-lhe sobre o que era tudo aquilo, ao que ele me respondeu:
- Aqui vive o seu Ka.
- Que é isso?
- Seu Poder. Seu Corpo Espiritual. São os registros de todas as Iniciações pelas quais você passou em todas as suas vidas. É sua bagagem permanente, Irmão.
- Quero saber mais sobre meu Ka.
- Quanto mais sutil ficar seu corpo, mais desperto será seu Ka.
Em seguida, um ser belo, com corpo humano e cabeça felina, apareceu diante de mim. Ele e Coiote trocaram um olhar significativo. Coiote se afastou de nós e em seguida o ser olhou para mim. Encaramo-nos e mentalmente nos comunicamos:
- Saudações, Cigano!
- Como vai?
- Bem. E você?
- Também.
- Eu sou Leo, do Planeta Sírius. Sou um dos Guardiões dessa Dimensão. Meu planeta transmite a Lei da Arquitetura Sagrada.
- Que é a Arquitetura Sagrada?
- A ciência de construir estruturas que são moldes das formas geométricas que você vê aqui. Seu corpo está alinhado com o seu campo morfogénetico desta dimensão. E é por isso que você deve aprender a sentir suas frequências de leitura do seu Ka, a fim de manter os limites certos de energia em seus quatro corpos.
- Quais são eles?
- Físico, Emocional, Mental e Espiritual.
- Como isso acontece, Leo?
- A partir do momento em que você sente os vários padrões vibratórios dos seus corpos, você pode se auto-curar e isso quer dizer compreender o planeta e o ambiente que o cerca, viver em abundância, ser saudável, cheio de amor para dar e receber, cheio de alegria e gozo, ou seja, espiritualmente pleno. Na Quinta Dimensão, você aprendeu que só se ilumina quem ama verdadeiramente. Aqui eu lhe mostro como isso acontece.
- E como acontece?
- Concentre-se em seu Ka.
Eu respirei fundo e o fiz:
- Sinta-o por dentro... Mergulhe dentro de você... Concentre em seu Poder Pessoal... Sinta seu Poder.
Tomei tamanha consciência de mim mesmo e ali descobri o que era ser dono de mim, o que era me conhecer plenamente por dentro e por fora.
- Pense em alguém e descubra que energia essa pessoa lança para você nos quatro níveis. Sabendo disso, você saberá se portar adequadamente com ela.
Pensei em Coiote e senti que meu físico o atraia. Ele me desejava sexualmente não para apenas uma transa ou uma aventura. Ele me queria por inteiro e por inteiro queria se dar a mim e só estava aguardando o momento certo. No plano emocional, senti o amor de Coiote por mim; no mental, percebi que ele pensava em mim como um Mestre em potencial e no espiritual, o vi como um grande aliado.
Pensei em seguida em Bruce e percebi seu desejo ainda aceso por meu físico, mas sem nenhum nível de comprometimento; só por diversão, coisa de momento; emocionalmente, me via como um cara legal; mentalmente, como um boçal ultrapassado e espiritualmente, queria roubar minha energia para ficar sempre bem.
Para finalizar a experiência, pensei em Jéssica que fisicamente só me achava belo, sem me desejar; emotivamente, via-me como amigo e tentava me manipular usando a culpa por ter transado com Bruce, ela se punha no papel de vítima para despertar minha compaixão, minha capacidade de perdoar e assim ter-me ligado a si; mentalmente, pensava em mim como alguém especial e espiritualmente, queria me fazer de seu “guru”.
Voltei a atenção para o Homem-Gato e ele me disse:
- Cuide do seu corpo. Aprenda como modelá-lo, como zelar por sua forma sem se violentar nem para se prender a futilidades. Cuide da sua geometria a fim de que seja simplesmente saudável e viva feliz, sem excessos. Aprenda a receber e dar. Seja a Cabala. Aprenda com os felinos: veja como nós nos exercitamos, como lidamos com o corpo, o movimento e o repouso. Como nos acariciamos, comemos, bebemos, nos lambemos, nos acariciamos... Mire-se na liberdade e na sinceridade dos felinos. Somos mais evoluídos do que você imagina e estamos aqui para ensinar-lhes a ser mais elegantes e seguros de si mesmos. Transe bem com os arquétipos zodiacais. Ore nas Sete direções, decodifique a Geometria Sagrada e se harmonize com a Natureza.
Senti-me então na pele de um gato e me vi fazendo espontaneamente algumas posturas de yoga. Fiquei tão relaxado, que dormi.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 32

Estava na floresta, sentado diante da fogueira, tendo os olhos maravilhados de Coiote Vermelho mirando os meus:
- A viagem foi boa, não é?
- Amo você!
Abracei e beijei meu amigo. Ele me ofereceu uma caneca com chá. Tomei-o saboreando cada golada. Entrei no meu saco de dormir e apaguei.

A partir daquela experiência, foi acontecendo uma mudança gradual na minha forma de me relacionar comigo e com outro: passei a me amar mais e, consequentemente, a amar mais o próximo.
A cada dia eu me sentia mais inteiro no Agora e aquilo significava estar ligado, estar atento a mim, a tudo e a todos. Minha história com Bruce ia bem, eu estava em paz trabalhando na lanchonete e minha amizade com Coiote e com outros amigos fluía docemente.
Só que um dia tive um choque: cheguei em casa e encontrei meu companheiro fazendo sexo com Jéssica na nossa cama. Parado, à porta do quarto, perguntei-lhes o que aquilo significava, interrompendo o coito do casal. Ambos se cobriram e ela meio encabulada, me pediu desculpas e disse que aquilo estava acontecendo porque Bruce garantiu para ela que nossa relação era aberta e que ela até se certificou com ele se eu realmente aceitaria relações paralelas e ele havia respondido afirmativamente.
Então eu falei para ele indignado:
- Nunca falamos sobre isso, Bruce!
- É... Eu sei, me desculpe, mas julguei que você fosse aberto para esse tipo de coisa... Tanto que nem me preocupei em fazer escondido, entende?
- Já tive muitos parceiros e parceiras nessa vida, mas um de cada vez... Não topo essa permuta de energia sexual com muitas pessoas ao mesmo tempo e se você gosta de viver assim, meu amigo, eu estou fora e nossa relação como amantes termina aqui.
- Gilberto, por favor, Gilberto! Não se precipite – falou Jéssica, perturbada – Cara, que situação chata! Como é que a gente faz isso?
- Qual é, Gilberto? – Questionou-me Bruce.
- Bruce, eu sou apaixonado por você. Jéssica, eu gosto muito de você, mas antes de qualquer um existe eu e eu me amo demais para me deixar violentar por vocês dois. Estou destroçado pelo que está acontecendo, porém sei o meu lugar e não estou disposto a mudar meus sentimentos só para ficar numa boa com vocês, como se nada estivesse ocorrendo, Ok?
- Você está dramatizando, amigo! – Julgou-me Bruce.
- Troque de lugar comigo, amigo – Propus tenso. – Não quero brigar, mas preciso saber agora de você, se é nesse padrão de relacionamento que você quer continuar. Porque se for assim, vou embora...
- E nossa amizade?
- Continuará, mas não vou ter clima de ficar morando contigo. E aí, é relacionamento aberto o que você quer?
Ele pensou uns instantes e respondeu:
- É isso.
Sem mais uma palavra, comecei a arrumar minhas coisas. Jéssica se aproximou de mim chorando, me pedindo desculpas, dizendo que jamais pensou em me magoar e tentando me abraçar. Delicadamente eu a impedi de me tocar e lhe disse que me desse um tempo para processar o acontecimento e que eu não estava bem para abraçá-la naquele momento.
Bruce levantou-se contrariado e foi tomar banho. Ela começou a vestir a roupa se maldizendo e eu, em poucos instantes, consegui arrumar meus pertences, entrei no banheiro, peguei meus objetos de higiene pessoal e deixei as chaves da casa na pia:
- Valeu, Bruce! A gente se vê.
- Para onde você está indo? – Perguntou-me chorando.
- Não sei ainda...
- Eu não queria...
- Eu sei... A gente se vê!
Despedi-me de Jéssica e saí da casa. Sensação de peso e leveza. Vontade de rir e de chorar. Milhões de sentimentos fervendo no meu caldeirão-alma... Fui à praia e fiquei mirando o mar lembrando bons momentos e chorando pela mágoa. Decidi derramar aquela mágoa toda de vez e quando não conseguia mais chorar, já era madrugada, adormeci e me senti vazio. Mágoa eu já não tinha em meu coração.
Acessei a 5D e vivi instantes de amor por mim mesmo maravilhosos. Também reafirmei meu amor por Bruce e por Jéssica, contudo tinha em mim a clareza de que não queria mais ser namorado dele.
Amanheceu. Fui à casa de Coiote na intenção de tomar um banho, comer algo e ir trabalhar.
Chegando lá, encontrei-o no quintal, nu, fazendo exercícios corporais. Quieto, contemplei sua harmonia e beleza enquanto realizava aqueles movimentos e ele, embora tivesse percebido minha chegada, continuou com sua prática por algum tempo até finalizá-la com um grito de poder. Em seguida entrelaçou os dedos das mãos com os indicadores juntos, apontados para cima e pronunciou palavras nativas que não entendi.
Olhou para mim, sorriu e pediu que eu me aproximasse. Eu o fiz, abraçamo-nos e ele me questionou:
- Que faz aqui a essa hora?
- Vim tomar banho e comer alguma coisa.
- Brigou com Bruce?
- Não. Separei-me dele.
- Sem briga?
- Sem briga.
- Motivo?
- Ele quer viver um relacionamento aberto e eu não. Ele e Jéssica estavam na cama...
- Sinto tristeza em seus olhos, em seu corpo e em sua aura, mas percebo também uma extraordinária capacidade de superação. O que você fez?
- Chorei até tirar de mim toda a dor e a mágoa. Depois acessei a 5D e me enchi de amor próprio. Ratifiquei meu amor por meus dois amigos e me trabalhei no sentido de não mais querer Bruce como amante. Foi o que eu fiz.
- Que bom! – Sorriu – Merece um lauto café da manhã.
Coiote Vermelho me convidou a entrar em sua casa simples e aconchegante. Preparamos nossa refeição, comemos, rimos, conversamos, ele me contou algumas experiências amorosas e concluiu dizendo:
- Ficarei feliz se você quiser permanecer aqui em casa até sua partida. Você não precisa voltar para o albergue, se assim o quiser...
- Coiote – eu lhe disse – Se eu tivesse com dinheiro suficiente, hoje mesmo eu iria embora de Sidney, mas não tenho e preciso me capitalizar mais para seguir viagem. Além disso, sinto que meu aprendizado com você ainda não acabou e por isso, fico muito feliz com seu convite e o aceito.
- Que bom, meu filho! De uma coisa tenho certeza com relação a você.
- O quê?
- Nunca conheci e jamais conhecerei alguém tão puro e tão verdadeiro quanto você, Cigano Peregrino.
As palavras do meu amigo me emocionaram, me enchendo de alegria e de clareza de que eu estava fazendo a coisa certa.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 31

Na noite seguinte, Coiote Vermelho me levou a uma floresta. Fizemos uma fogueira e ele me recomendou ficar nu. Ele também se despiu. Acendeu um cachimbo, fumamos e me deliciei com o cheiro de eucalipto que se desprendia do fumo. Ele começou a tocar um tambor e pediu para que eu sentisse o ritmo do seu toque no meu coração.
Ele começou a tocar e eu a viajar no ritmo e na fumaça da fogueira. Ele me mandou desfocar a visão e respirar pausadamente... “Mobilize toda a potencia de amor que você tem no seu interior, especificamente no Chakra Cardíaco... Ame-se profundamente; ame a floresta; a noite; o fogo; o som e o silêncio... Ame a sombra e a luz; ame toda essa cidade; ame os doentes; os excluídos; os segregados... Ame os corruptos, ame aqueles que são mais difíceis de serem amados, pois estes são os que mais precisam do seu amor”...
Comecei a mobilizar esse profundo sentimento de amor e senti meu peito se dilatando. Quanto mais eu criava a energia amorosa, mais pessoas eu envolvia naquela onda e mais feliz eu me sentia. Raios cor de rosa e verdes saíam do meu peito e eu recebia, outros tantos, vindos de diversas partes, de diversas pessoas que consciente ou inconscientemente sabiam estar participando de um momento especial.
Vi o quanto o Amor é contagioso e irresistível!
Vi-me fazendo amor com Bruce. Vi-me trocando caricias com Coiote, Shalom, Sofia, Luiz, Chencha, Ricardo, Clara, Emmanuel e outras pessoas que viveram alguma história comigo.
- O que vê, Peregrino? – Coiote Vermelho me perguntou.
- Vejo o Amor, Coiote.
Naquele momento, fui arrebatado para outra dimensão e me senti capaz de amar sem limites, sem impor condições. Todo o meu ser brilhava, resplandecia e me deparei com uma mulher ou uma inteligência feminina enorme. Ela sorria para mim e eu lhe retribui o sorriso:
- Bem-vindo ao Samadhi!
- Que é isso?
- É o que você sente nesse momento.
- O amor mais profundo e inteiro que já senti até hoje. É o amor supremo.
- Meu nome é Alcione, sou uma Pleiadiana e sou uma das Guardiãs dessa dimensão.
- Muito prazer, Alcione. Sou Gilberto e me sinto totalmente refrescante e luminoso.
- Quando a gente ama, se ilumina. Precisa de mais nada. Nada de ascetismo ou isolamento, ou provas escabrosas. Se há amor, há luz. Sua luz vem do chakra cardíaco e está sintonizada com tudo o que existe na matéria e na não matéria. Quero que você se torne um Mestre do Amor.
- E como posso me tornar um Mestre do Amor?
- Ponha prazer em tudo o que fizer. Conscientize-se que não tem mais nada a não ser o presente. Focalize sua atenção na única certeza que o Cosmos te dá: o Agora e sugue de cada instante o Orgasmo de Existir. Cada momento é especialíssimo e a todo instante algo mágico está acontecendo. Agarre-se ao momento. Goze e tenha o máximo de sexo orgástico e amoroso que puder. A cada Orgasmo você planta uma muda de Amor na Floresta do Universo. Goze fazendo sexo, trabalhando, comendo, bebendo, lutando, dormindo, sonhando... Vivendo e Morrendo e obterá a Mestria do Amor. Quanto mais ânsia tiver para o gozo, mais atraído será pela infinitude cósmica e suas eternas lições. Aprenderá a ler na Esteira Cósmica e contará Histórias para seus filhos, os filhos deles e quem vier. Histórias que mudarão o modo de ver o mundo e a vida e ampliarão tudo o que hoje é conhecido.
Ouvi músicas de amor e vi Jesus, O Cristo, casando-se com Maria Madalena. Ao fundo, uma voz ardente declamava O Cântico dos Cantos e eu me deliciava num mar de êxtase. Vi-me trocando carícias com o Casal Sagrado e ouvia de suas bocas: “Viemos para falar de Amor e isso nada tem a ver com dor e religião. Tem a ver com libertação e prazer”! Madalena me dava um cálice com vinho e eu o tomava, saboreando aquela bebida deliciosa e então ouvi de Jesus:
- Esse é meu sangue que corre nas veias de milhares hoje espalhados pelo mundo. Este é meu código, meu DNA que acenderá as mentes e os corações a fim de que preparem um novo tempo. Em cada consciência eu estou. Em cada ser, EU SOU!
- Qual o sentido da vida, Jesus? – Perguntei-Lhe.
- Procurar seres que você possa amar. Deixar-se amar por quem lhe faz bem. Amar-se como a seu próximo. O único sentido de estarmos vivos é a vontade interna de experimentar o amor e conhecê-lo. O resto é secundário. Uma vida só tem sentido se for divertida, empolgante e ardente. O resto é doença.
- As pessoas se estressam tanto por nada!...
- O estresse é a maior prova de desamor que um ser pode fazer a si mesmo. Nenhum de nós nasceu para sofrer.
E seguida, me encontrei com um belo anjo luminoso e sorrindo, ele me cumprimentou:
- Olá! Sou Lúcifer, Aquele que porta a Luz.
Fiquei boquiaberto com sua presença e beleza.
- Eu sou Amor. Eu sou Luz. A história carregou nas tintas com as quais me pintou, mas saiba que minha rebelião foi contra os abusos de um Deus Tirano e nada tinha a ver com O Criador Primordial. Tudo o que eu quis implantar foi o Poder do Livre Arbítrio nos corações e mentes de todos, e incomodei a Tirania que se encarregou de deturpar as coisas; mas como a verdade sempre aparece, mais cedo ou mais tarde, essa é a minha versão.
Aproximei-me de Lúcifer, abracei-o e senti o poder da Luz e do Amor em todos os meus átomos.
Uma explosão de amor aconteceu e voltei a mim. 

sábado, 10 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 30

Fomos às Praias de Queenscliff e Manly e vimos mais surfistas, mais manobras, mais gente bonita e trocamos mais carícias. Bruce era extremamente carinhoso e eu já estava totalmente entregue àquela paixão.
Depois fomos à Opera House e à Ponte do Porto, onde tiramos fotos fantásticas. Apaixonei-me pelo Cais. Sempre adorei ficar em algum cais; bate uma nostalgia gostosa, uma saudade estranha de não sei quem ou não sei onde...
Adorei o Museu Marítimo e o Aquário, onde terminou minha apaixonante rota turística. O sol se pôs, retornamos à nossa casa e fizemos amor.

No dia seguinte, fomos trabalhar felizes. Ao meio-dia tive uma grata surpresa, quando o homem que eu esperava cruzou a porta de entrada. Ele usava roupas claras e soltas, tinha uma presença notável, cumprimentou cordialmente algumas pessoas e sentou-se a uma mesa do lado direito. Bruce olhou para mim sorrindo e fez sinal para que eu fosse atendê-lo. Prontamente fui:
- Boa tarde, senhor?
- Boa tarde – ele me olhou nos olhos por alguns instantes e sorriu. – É novo por aqui?
- Sim. Comecei há alguns dias.
- Venho aqui sempre, mas tive alguns compromissos que me afastaram daqui nesses dias.
Entreguei-lhe o cardápio.
- Obrigado, meu jovem. Como se chama?
- Gilberto.
- Tem um sotaque diferente...
- Sou brasileiro.
- Verdade? Que bom! Sou mexicano.
- Eu sei.
- Como sabe?
- Estive com Chencha. Ela me falou de você.
Ele abriu um largo sorriso e apertou minha mão:
- Como ela está?
- Bem... Linda... Única...
- Apaixonou-se por ela?
- Como não?
- É impossível não se apaixonar por aquela Deusa!
- Você também se apaixonou?
- Quem quer que se aproxime de Chencha, inexoravelmente se apaixona por ela e isso acontece de várias formas e tem várias nuanças... Como soube que eu estava aqui?
- Eu vim para cá sem saber. Vim porque estou peregrinando. Estive em Chitzen Itza e no meu roteiro vinha Sidney logo em seguida. Ela havia me falado de você, depois Bruce também o fez e desde então eu estava aguardando por esse momento.
Olhei para o seu colar de presas de coiote e me impressionei.
- Então por que estamos nos atraindo, Gilberto?
- Porque você tem algo a me ensinar.
- Ou quem sabe o mestre seja você?
- Não entendi...
- Bem, não podemos ter essa conversa aqui e agora. Quero um suco de morango com leite e um hamburger. Depois a gente vai marcar.
- Certo. É um prazer te conhecer, Coiote Vermelho.
- Idem, Peregrino.
Fui dizer para a cozinha o seu pedido e no caminho, comemorei com Bruce, que logo foi cumprimentá-lo e falar amenidades.

Marcamos um jantar em nossa casa para a noite seguinte.
Bruce fez uma deliciosa macarronada e regados a um bom vinho, e embalados por boa música, tivemos uma conversa interessante:
- O que lhe trouxe aqui, Gilberto? – Perguntou-me Coiote.
Contei-lhe minha trajetória desde que encontrei Sofia em Brejões, nos meus tempos de padre, até minha estada no México.
- Cigano... Padre. Pansexual. Alternativo. Peregrino... Quem é você, rapaz? De onde vem com toda essa bagagem?
- Sei não, Coiote. Tudo que me resta agora é viver e viajar.
- Bom... Então do México, você veio para cá e fez amizade com Bruce, e agora está namorando com ele e conversando comigo.
- É o que parece... – Respondi e rimos os três.
- O que você veio me ensinar, Peregrino?
- Não tenho ideia, Coiote.
- Chencha lhe ensinou a orar nas sete direções e o ajudou a acessar a Quarta Dimensão, não foi?
- Foi.
- Eu sei algumas coisas sobre a Quinta Dimensão, mas antes de falar sobre isso ou de lhe ensinar como acessá-la, se é que alguém pode ensinar outrem a amar, quero conversar sobre uma história com você... Ou melhor, com ambos.
- Diga, amigo – falou Bruce.
- Gilberto, qual é a sua relação com a vida?
Pensei um pouco e respondi:
- Uma relação de prazer.
- Uma relação de prazer... E com a morte?
- Com a morte?!... Não sei... Não penso muito nisso.
- O que sente por Bruce?
- Paixão. Uma grande paixão.
- Certo. Se ele aparecesse com um mal incurável e tivesse pouco tempo de vida nesse corpo, e te pedisse para aplicar uma injeção letal nele, por não ter mais vontade de viver. Você o faria?
Fiquei mudo. Olhei para Bruce, que também estava sem ação.
- Aonde você quer chegar? – Perguntei a Coiote, tentando tomar um fôlego.
- Quero ver até onde vai a sua capacidade de amar.
- E por acaso vai avaliar isso pela minha coragem ou covardia em cometer um crime? Um assassinato?
- Sim, já que esse é o nome que você dá...
- Você é louco!
- Pena que você não seja o bastante, mas tenho certeza de que isso será facilmente contornável. Ainda há uma herança judaico-cristã-religiosa muito forte em suas entranhas; o interessante é que você tem um pouco de insanidade e não será difícil fazer você mudar de opinião.
- Você está brincando, não é?
- Absolutamente.
- Estou gostando desse jogo. Vamos em frente.
- Não é um jogo, filho. É a senha. Quando se ama de verdade, perde-se o medo da morte e das condenações inventadas pelas religiões.
- Seja mais especifico – pedi.
- Eu tive um grande amor chamado Marina. Era uma mulher bela e forte. Sua tônica era o dinamismo. Era hiperativa e sempre estava desempenhando alguma atividade. Certo dia descobrimos que ela estava com câncer e lutamos pela sua cura. Mesmo doente ela continuou na ativa, porém com o tempo, o poder da doença foi minando suas forças até levá-la ao leito. Para Marina a vida não tinha mais sentido porque ela não era mais funcional e isso ela pensava não com relação ao outro, mas com relação a si própria. Um dia, chorando, ela me perguntou se eu a amava de verdade. Respondi que sim. Ao que ela falou “Esse amor pode levá-lo a me matar para acabar com esse sofrimento que se tornou minha vida?” Chorei uma noite e um dia, mas depois fui ao nosso quarto e lhe disse que por amor, colocaria um fim naquela dor.
- O que você fez? – Indaguei.
- Consegui uma superdosagem de heroína e injetei nela. Morreu de overdose.
- E depois, como você se sentiu?
- Capaz de amar a humanidade sem impor condições ou limites. E descobri uma grande chave.
- Qual? – Perguntei.
- Que poderei fazer isso comigo em algum momento, sem culpa, sem medo ou arrependimento. Sabem por quê?Porque removi o “Programa DEUS” e assumi minha própria divindade. Isso significa que se sou o Senhor da Minha Vida, por ter escolhido todas as experiências pelas quais eu devia passar, sou também o Senhor da Minha Morte e posso determinar seu acontecimento quando bem quiser e entender. Não há ninguém para me punir. Eu posso determinar o limite da minha dor, decidindo se desejarei levá-la até o tempo de ela se extinguir ou até o meu tempo de querer suportá-la. Isso também é ser capaz de me amar sem limites.
- Mas isso é contrário a tudo o que eu aprendi, Coiote – retruquei.
- Desaprenda e cresça! Assumir sua divindade é ter o poder sobre a própria dor. É vencer a dependência de uma mentira chamada religião e amar-se profundamente.
- Isso é bastante sedutor! – Exclamei.
- Que bom! Você é louco o bastante para ter coragem de amar e ser feliz. Está pronto para acessar a Quinta Dimensão.
- Por quê?
- Verás.
Fiquei pensando numa frase dita por ele, que me chamou muito a atenção: “... se sou o Senhor da Minha Vida, por ter escolhido todas as experiências pelas quais eu devia passar, sou também o Senhor da Minha Morte e posso determinar seu acontecimento quando bem quiser e entender”.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 29

Depois fui com Bruce à praia e conheci outros surfistas e diversas pessoas. Tudo ali era muito livre. Alguns falavam de coisas interessantes; outros, nem tanto. Fiquei na areia com outras pessoas vendo manobras fantásticas que aqueles seres faziam nas ondas. Eu não sabia no que pensar; só sabia contemplar, sentir, viver aquele momento. Uma linda moça me ofereceu um baseado e aceitei. Foi fascinante experimentar maconha pela primeira vez naquele cenário maravilhoso, com aquelas pessoas inusitadas.
Quando Bruce voltou com os outros e me encontrou viajando, riu como uma criança. Ele não curtia drogas, mas não tinha problemas em conviver com quem gostava. A menina que “me batizou” no ritual com a cannabis sattiva se chamava Jessica. Era loira, sarada, australiana e namorava uma africana exótica chamada Nzinga.
Fomos para a casa de Jessica. Fritei peixe para nós, Nzinga fez arroz; Bruce, salada; tinha vinho branco na geladeira e nos deliciamos num jantar elegante e simples. Falamos sobre diversas coisas, falamos de nós, de nossos sonhos e histórias. Eu nunca havia me sentido tão liberto.
No meio da conversa, manifestei minha preocupação sobre o fato de precisar arranjar um emprego para me manter ali e me capitalizar para seguir viagem. Bruce então falou:
- Cara, você é um homem de sorte!
- Por quê? – Perguntei.
- Um indiano que trabalha lá na lanchonete estará voltando para o país dele em dois dias. Não tem ninguém ainda para ocupar a vaga dele, logo vou falar com o dono e acho que você poderá trabalhar lá.
- Pronto, padre! – Brincou Jessica – problema resolvido, Graças ao Bom Deus!
- É. A vaga do indiano será minha.

No dia seguinte, fui à lanchonete conversar com o dono sobre a vaga e ele me admitido como garçom. Comecei a trabalhar no estabelecimento com grande expectativa de conhecer Coiote Vermelho, mas ele não apareceu. Segundo Bruce, ele ia lá frequentemente e não havia aparecido nem quando estive lá pela primeira vez. Por que seria? Perguntei ao mau amigo como ele era e tive a seguinte descrição:
- É um homem de aparentemente 60 anos e transmite uma vitalidade maior do que a de muitos da nossa idade. Seus cabelos longos e grisalhos estão sempre amarrados. Seus olhos brilham e seu corpo está em forma. Tem mãos fortes, veste roupas leves e usa um colar que tem uma arcada dentária de um coiote. É um homem belo e carismático; mas discreto. Chega sem alardear e mesmo assim é impossível não notá-lo.
Como o indiano dividia o apartamento com Bruce e estava partindo, ele me convidou para ocupar o lugar do antigo morador. Saí do albergue e fui morar com meu amigo.

Numa de nossas folgas, Bruce me chamou para conhecer mais um pouco de Sidney. Entramos em seu carro e ganhamos as ruas.
- Sou apaixonado por isso aqui, Gilberto – disse-me ele. – Não tenho vontade de sair desse lugar. Amo a Austrália e considero Sidney o melhor lugar do mundo.
- Quando a cidade foi fundada?
- Foi criada há uns 200 anos como colônia penal inglesa. Acredita?
- Nossa! Esse paraíso já foi uma colônia penal?
- Pois é. E se tornou o que vemos hoje: uma cidade elegante, multiétnica e multicultural.
- A pluralidade australiana me impressiona desde o cenário geográfico até as manifestações culturais. Sempre me encantei quando via por revistas ou pela televisão as florestas, as praias, as montanhas nevadas, os espaços amplos e os desertos. Parece com meu país.
- E muito, mas com relação à taxa de analfabetismo, nossos países não têm muito a ver. Ela aqui é mínima.
- Infelizmente a de lá ainda é sofrível, como muitas outras coisas... Mas vamos falar do que é bom. A descontração e a hospitalidade aqui também se parecem com algumas regiões de lá.
- Acho que lá é melhor do que aqui!
Rimos e o “tour” aconteceu prazerosamente. Ele me levou à Praia Lady Jane, um lugar lindo, onde se pratica o naturismo. Ficamos nus e pude contemplar outras pessoas também nuas brincando, conversando, comendo e bebendo. Era a primeira vez que eu vivenciava aquilo e me senti leve, longe dos pudores, das reservas, dos medos e tabus. A vida se mostrava a cada momento mais rica e generosa para mim e eu me sentia loucamente agradecido por tantos presentes:
- E aí, como está se sentindo? – Perguntou-me enquanto tomávamos suco de frutas.
- Bem... É diferente. É minha primeira vez, mas me sinto confortável.
- É pena que quando a gente se acostuma, perde essa cara maravilhada que você está agora.
Gargalhamos e fiquei encabulado.
- Qual é, Gilberto...
- Você é uma pessoa bonita, Bruce. Sou um homem de sorte por ter te encontrado.
- Eu também sou um homem de sorte – disse ele com ar insinuante.
- Você tem namorada?
- Não.
- Namorado?
- Não.
- Por quê?
- Talvez por que eu estivesse esperando por você...
- É talvez!...
Sorrimos. Comecei a ficar excitado e tive que ir para a água.
Quando voltamos para o carro, já vestidos, nos beijamos e assim começou meu novo romance.

domingo, 4 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 28

CAPÍTULO 4

SIDNEY- AUSTRÁLIA

“É incrível a força que as coisas parecem ter quando elas têm de acontecer”.
Caetano Veloso

Dezessete horas depois, eu pousava em solo australiano moído de cansaço e meio zonzo por causa do fuso. Eu não sabia o que estava buscando lá, assim como não sabia o que fui buscar nos outros lugares por onde passei nessa peregrinação e me senti angustiado. Estava na verdade exausto. Depois mandei o mau-humor embora e me trabalhei no sentido de valorizar as aprendizagens de cada viagem.
Soube de um albergue barato que ficava na praia de Bondi e fui para lá. Para sorte minha, havia algumas vagas, mas achei o preço um pouco alto para minha realidade americana, mas conversando com algumas pessoas, pude constatar que para o custo de vida australiano e para o local onde escolhi, não podia encontrar hospedagem mais acessível e confortável.
Eu ainda tinha alguma reserva de dinheiro, porém ela não seria suficiente para eu viajar depois para Sintra, Cairo e Srinagar. Eu precisava descolar um trabalho para “fazer dinheiro”. Tinha que batalhar.
Dormi um dia quase inteiro. Quando acordei, embora estivesse com um pouco de dor de ouvido, estava refeito. Saí para caminhar e explorar o local. Fiquei deslumbrado! A praia era maravilhosa: pessoas lindas, corpos esculturais, gente saudável, gente drogada, gente surfando, gente tocando e cantando, bebendo, comendo, dançando, namorando, fazendo e vendendo artesanato. Eu estava no paraíso tropical!
Parei numa lanchonete para me abastecer e pedi um suco de melancia e um cheesebuger a um lindo jovem moreno de corpo atlético e sorriso cativante. Ele era simpático e foi logo puxando conversa comigo:
- De onde vem? – Perguntou-me.
- Do Brasil.
- Brasil?! Que ótimo! Sou louco para conhecer o Brasil! Bem-vindo a Sidney!
- Obrigado. Você é daqui?
- Não. Nasci em Londres, mas moro aqui há anos.
- É australiano de coração?
- Como?!
- Já se considera australiano por causa do tempo que vive aqui...
- Ah, sim! Em parte. Na verdade, Sidney não é capital da Austrália.
- Não?!
- Não. Sidney é a capital de Nova Gales do Sul. A verdadeira capital australiana é Canberra, mas Sidney é mágica! Tem algo especial aqui que faz desse lugar o mais importante do país.
- Em termos de Brasil eu penso que também acontece isso. Embora Brasília seja a capital oficial, penso que Salvador é a de fato. Salvador é a cara do Brasil.
- Bahia?
- Sim, Bahia.
- Amo aquela terra. Quando vejo nas revistas e na internet, sinto que é o lugar para onde vou daqui a alguns tempos... E quem sabe até resolva ficar por lá.
- Você vai se dar bem.
- Oh, sim! Veio do Brasil direto para cá?
- Não. Fui para Machu Picchu, no Peru; passei em El Moro, nos Estados Unidos e em Chitzen Itza, no México.
- Uau! Viaja a negócios?
- Mais ou menos...
- Como assim?
- Faço uma peregrinação espiritual e estes lugares estão na minha lista.
- Hum! Machu Picchu e Chitzen Itza para mim não são estranhos, mas El Moro é. Nunca ouvi falar!
- Até hoje não sei se era um lugar concreto, real dentro desta dimensão, ou se fazia parte de uma outra realidade.
- Hum!...Por que Sidney? Vejo relação nenhuma entre aqui e Machu Picchu e Chitzen Itza...
- Não sei, mas quero descobrir. Como se chama?
- Bruce. É um prazer conhecê-lo – disse-me estendendo a mão e apertando a minha calorosamente. -  E você?
- Gilberto. Idem!
- Gosta de surf, Gilberto?
- Sou um apreciador, mas não me interesso em aprender a surfar.
- Mais tarde vou para o mar. Se quiser dar uma olhada, fale comigo que eu te levo.
- Vou adorar, Bruce!
- Então está combinado.
- O.k.!
Fiz meu lanche e senti falta de Chencha. Como estaria ela? E Luiz? E Richard? E Clara?
Bruce atendeu algumas pessoas e depois voltou para me dizer algo que me deixou estupefato:
- Conheço um cara que você vai gostar de conhecer. Ele é Xamã e se liga nessas coisas que você parece gostar. Às vezes, ele vem comer aqui.
- Que bom! Quem é ele?
- Tem um nome interessante: Coiote. Coiote Vermelho.
Seria possível? Aquele que foi mestre de minha Chencha estava ali, pertinho de mim! Aquela foi uma estupenda sincronicidade!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 27


Dois dias depois encontrei Luiz todo alegre e bem vestido conduzindo um carrinho de cachorro quente. Quando me viu, largou o carrinho e me deu um abraço gostoso:
- Estava louco para te ver, Gilberto! Que tal? – Mostrou-me o carrinho.
- Fantástico! Estou feliz por você!
- Com o dinheiro que você me deu, comprei comida para mim e para minha avó, e fiquei na dúvida se devia pagar algumas dívidas ou investir em alguma coisa que fizesse o dinheiro crescer. Optei pela segunda. Assim, multiplicarei a dádiva que recebi, pagarei o que eu e minha avó devemos no armazém e na farmácia e poderei viver do meu suor, de forma honesta, sem altos riscos.
Emocionado, abracei-o e com lágrimas nos olhos, ele continuou:
- Obrigado por ter aparecido em minha vida.
- Também te agradeço por ter chegado na minha.
- Agora quero que experimente meu produto e diga como está?
- Quanto é? – Fui tirando a carteira.
- Se fizer isso, vai me ofender. Esse é meu presente para você.
Obedeci meu amigo e recebi de bom grado o cachorro-quente e a lata de Coca-cola. Comi e bebi com prazer. Estavam deliciosos! Despedimo-nos, ele foi trabalhar e eu, andar e pensar na vida.

Chegando em casa, contei minhas experiências para Chencha e ela vibrou com minha alegria. Em seguida, percebi certa tristeza em seu olhar e perguntei o que estava acontecendo e ela me respondeu que meu tempo ali estava acabando e embora ela soubesse que não deveria se apegar a mim, pois eu só estava ali de passagem, foi inevitável; eu a cativei.
O pior é que eu também estava bastante envolvido com ela e extremamente apegado. Foi péssimo para eu perceber que brevemente eu iria deixá-la:
- O que nos resta fazer, minha amada? – Perguntei-lhe.
- Viver intensamente o tempo que nos resta, meu amado – foi sua resposta.
No dia seguinte, fizemos amor em Chitzen Itza e ficamos o tempo todo juntos.
Uma semana depois, comprei minha passagem para Buenos Aires.
Alguns dias após, minha amiga levou-me à Cidade do México. No aeroporto, demo-nos um beijo bem doce e demorado. Com lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios, nos despedimos com um simples “hasta la vista!”, sentindo que estávamos um no outro para sempre, em qualquer circunstancia.
Fui para a capital da Argentina e passei um dia inteiro dormindo. Só saí para comprar minha passagem.
De lá, peguei um avião rumo a Sidney, Austrália, num vôo transpolar. Eu sentia que novos conhecimentos e aventuras me aguardariam no Novíssimo Mundo.
Embora já saudoso da minha querida Chencha, eu estava feliz! Eu estava bem!