domingo, 4 de setembro de 2011

O Cigano Peregrino - 28

CAPÍTULO 4

SIDNEY- AUSTRÁLIA

“É incrível a força que as coisas parecem ter quando elas têm de acontecer”.
Caetano Veloso

Dezessete horas depois, eu pousava em solo australiano moído de cansaço e meio zonzo por causa do fuso. Eu não sabia o que estava buscando lá, assim como não sabia o que fui buscar nos outros lugares por onde passei nessa peregrinação e me senti angustiado. Estava na verdade exausto. Depois mandei o mau-humor embora e me trabalhei no sentido de valorizar as aprendizagens de cada viagem.
Soube de um albergue barato que ficava na praia de Bondi e fui para lá. Para sorte minha, havia algumas vagas, mas achei o preço um pouco alto para minha realidade americana, mas conversando com algumas pessoas, pude constatar que para o custo de vida australiano e para o local onde escolhi, não podia encontrar hospedagem mais acessível e confortável.
Eu ainda tinha alguma reserva de dinheiro, porém ela não seria suficiente para eu viajar depois para Sintra, Cairo e Srinagar. Eu precisava descolar um trabalho para “fazer dinheiro”. Tinha que batalhar.
Dormi um dia quase inteiro. Quando acordei, embora estivesse com um pouco de dor de ouvido, estava refeito. Saí para caminhar e explorar o local. Fiquei deslumbrado! A praia era maravilhosa: pessoas lindas, corpos esculturais, gente saudável, gente drogada, gente surfando, gente tocando e cantando, bebendo, comendo, dançando, namorando, fazendo e vendendo artesanato. Eu estava no paraíso tropical!
Parei numa lanchonete para me abastecer e pedi um suco de melancia e um cheesebuger a um lindo jovem moreno de corpo atlético e sorriso cativante. Ele era simpático e foi logo puxando conversa comigo:
- De onde vem? – Perguntou-me.
- Do Brasil.
- Brasil?! Que ótimo! Sou louco para conhecer o Brasil! Bem-vindo a Sidney!
- Obrigado. Você é daqui?
- Não. Nasci em Londres, mas moro aqui há anos.
- É australiano de coração?
- Como?!
- Já se considera australiano por causa do tempo que vive aqui...
- Ah, sim! Em parte. Na verdade, Sidney não é capital da Austrália.
- Não?!
- Não. Sidney é a capital de Nova Gales do Sul. A verdadeira capital australiana é Canberra, mas Sidney é mágica! Tem algo especial aqui que faz desse lugar o mais importante do país.
- Em termos de Brasil eu penso que também acontece isso. Embora Brasília seja a capital oficial, penso que Salvador é a de fato. Salvador é a cara do Brasil.
- Bahia?
- Sim, Bahia.
- Amo aquela terra. Quando vejo nas revistas e na internet, sinto que é o lugar para onde vou daqui a alguns tempos... E quem sabe até resolva ficar por lá.
- Você vai se dar bem.
- Oh, sim! Veio do Brasil direto para cá?
- Não. Fui para Machu Picchu, no Peru; passei em El Moro, nos Estados Unidos e em Chitzen Itza, no México.
- Uau! Viaja a negócios?
- Mais ou menos...
- Como assim?
- Faço uma peregrinação espiritual e estes lugares estão na minha lista.
- Hum! Machu Picchu e Chitzen Itza para mim não são estranhos, mas El Moro é. Nunca ouvi falar!
- Até hoje não sei se era um lugar concreto, real dentro desta dimensão, ou se fazia parte de uma outra realidade.
- Hum!...Por que Sidney? Vejo relação nenhuma entre aqui e Machu Picchu e Chitzen Itza...
- Não sei, mas quero descobrir. Como se chama?
- Bruce. É um prazer conhecê-lo – disse-me estendendo a mão e apertando a minha calorosamente. -  E você?
- Gilberto. Idem!
- Gosta de surf, Gilberto?
- Sou um apreciador, mas não me interesso em aprender a surfar.
- Mais tarde vou para o mar. Se quiser dar uma olhada, fale comigo que eu te levo.
- Vou adorar, Bruce!
- Então está combinado.
- O.k.!
Fiz meu lanche e senti falta de Chencha. Como estaria ela? E Luiz? E Richard? E Clara?
Bruce atendeu algumas pessoas e depois voltou para me dizer algo que me deixou estupefato:
- Conheço um cara que você vai gostar de conhecer. Ele é Xamã e se liga nessas coisas que você parece gostar. Às vezes, ele vem comer aqui.
- Que bom! Quem é ele?
- Tem um nome interessante: Coiote. Coiote Vermelho.
Seria possível? Aquele que foi mestre de minha Chencha estava ali, pertinho de mim! Aquela foi uma estupenda sincronicidade!

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