terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Cigano Peregrino - 42

Saímos cedo do Cairo e chegamos a Mênfis cerca de meia hora depois. Fiquei profundamente encantado com a mais velha capital do Egito. Nasser me levou ao Colosso de Ramsés II, obra que me deixou estupefato:
- Que pensa quando vê isso, Peregrino?
- Penso no poder – respondi.
- E você se coloca acima, abaixo ou na mesma posição desse poder?
- Abaixo.
Ele sorriu e fomos ver a Esfinge em alabastro da 18ª Dinastia:
- Que sente ao ver a Esfinge?
- Poder.
- O seu poder?
- Não. O poder da Esfinge.
Ele sorriu e voltamos para o Cairo.

Na noite seguinte, ele me convidou para darmos uma volta. Afastamo-nos da cidade e quando chegamos a um lugar deserto, saímos do carro e ele se pôs a olhar o céu estrelado por algum tempo:
- É lindo! – Exclamou.
- Muito! – Falei.
- Veja ali... A constelação de Órion.
- Sim.
- O que sente ao vê-la?
Mirei por alguns instantes:
- Luz. Sinto a Luz dela.
- E a sua?
- Aonde você quer chegar?
- Aonde você quer chegar? – Devolveu-me a pergunta com maior ênfase – As estrelas são vistas como Guias porque iluminam a noite e sua posição orienta os viajantes. Você se dá conta de que também é uma estrela? De que tem luz própria?
Fiquei mudo. Ele me abraçou e voltamos para casa sem darmos uma só palavra.

Dois dias depois, levou-me para ver As Pirâmides e a Esfinge de Gizé:
- Você deve estar se perguntando por que estou a te levar cada dia a um lugar diferente e fazendo abordagens para as quais não apresento conclusão alguma, não é?
- Penso que faz parte da sua didática. Sei que quer me levar a refletir sobre o que é posto.
- E você chegou a alguma conclusão?
- Embora eu reconheça o poder que há fora de mim, jamais poderei negar meu poder pessoal.
- Muito bem. Essa é a chave para fazer ruir a pirâmide que faz pouco caso do nosso poder pessoal e penetrar na Mente Divina. Seja bem-vindo à Oitava Dimensão.
Uma Luz muito forte se fez presente a ponto de ofuscar minha visão. Com o tempo, seu brilho se tornou mais sutil e pude enxergar novamente:
- O que há de comum entre uma nota de dólar, um templo maçônico e outras sociedades ditas secretas? – Perguntou-me.
Pensei uns instantes e respondi:
- A pirâmide com o símbolo do “Olho que tudo vê”.
- Bom menino e sabe o que isso significa?
- Acho que significa Evolução Espiritual, Consciência Divina...
- Isso é o disfarce. No fundo este símbolo maldito é um dos maiores ícones da manipulação e do controle da elite. “O Olho” nada mais é que a pretensão que os poderes norte-americanos e as sociedades secretas têm de monitorar o comportamento das pessoas. O Olho está no topo da pirâmide e para ele o que está abaixo está sobre sua tutela e lhe deve obediência. É isso o que você quer para sua vida?
- Não.
Naquele momento surgiu em minha frente uma pirâmide imensa e no topo dela havia o Olho e estava vivo! Ele observava, registrava e vigiava tudo.
- Se quer entrar na Mente Divina, amigo, vai precisar ter coragem de romper com a hierarquia dominante e fazer ruir essa pirâmide que despreza seu poder pessoal.
- Mas ela é tão grande!...
- Quanto maior você fizer o poder da elite, mais ele pesará sobre você. É o povo que dá o poder e não sabe ainda.
À proporção que eu olhava aquela pirâmide e o olho opressor, fui me dando conta de todos os momentos da vida em que me permiti ser manipulado pela família, pela igreja e pelo estado e aquilo despertou em mim um desejo intenso de subversão.
À medida que em me dava conta e minha rebeldia interna despontava, o símbolo da manipulação ia reduzindo o tamanho até ficar da minha estatura. Um jato de luz saiu da minha fronte e destruiu o símbolo nefasto.
- O que tem a dizer sobre a Luz, Peregrino? – Nasser questionou-me
- Defini-la, limitá-la é zombar dela. É zombar da Mente Divina. A Luz não deve ficar confinada nos templos e palácios. Ninguém pode me fazer acessar a Mente Divina além de eu mesmo.
- E como você pode acessar a Mente Divina?
- Amando a natureza e os seres. Tudo o mais é engodo. O sistema e a elite escravizam. O poder está nas mãos de poucos. Não preciso de ninguém que represente meus interesses e seja mediador entre mim e a Divindade, porque eu me assumo como Um Ser Divino.
- Entre em contato com Órion... O que capta da constelação?
- A Federação Galáctica trabalha com meus desejos porque nasci nesse planeta para refletir minha consciência de volta à Luz. E por amar a vida e ser sábio, posso acessar os Conselhos dessa Federação a qualquer momento.
- Aproprie-se da sua mente. Aproprie-se do seu poder e Brilhe!
Vi-me quebrando um enorme ovo e dentro dele estava eu mesmo prestes a renascer. Olhei para Nasser e ele me encarava maravilhado.
- Venha comigo – eu o convidei.
- Nunca cheguei tão longe. É arriscado!
- Que risco pode haver?
- De se atingir uma liberdade tão irrestrita que será insuportável continuar vivendo na Terra.
- Você ainda tem coisas a fazer por aqui? É isso?
- Sim.
- Eu não vou recuar.
- Eu sei. Boa sorte!
Fundi-me a mim mesmo e senti quebrando amarras e limites. Vi-me renascendo cheio de luz, de amor e conhecimento. Vi estruturas opressoras desabando, o poder sendo administrado de forma equânime por todos, o fim das religiões organizadas, a consciência Crística sendo atingida por todos e então me vi aprendendo a lidar com as informações da Lua e das Estações.
A Lua me disse:
- Eu mantenho as memórias de sua alma ao longo da sua jornada e posso lhe ajudar a se auto-curar. Possua-me! E não precisará mais de médicos ou de outras pessoas para lhe curar ou proteger. Conheça meus ciclos e se harmonize com eles. Cada vez que surjo Nova, marco o inicio de uma nova história. Cada vez que minguo, assinalo o fim e preparo um novo começo. Possua-me!
A Lua se tornou uma imensa vagina e ao mesmo tempo em que eu a possui, fui por ela possuído. Atingi um orgasmo sem precedentes e adormeci.
Despertei e me vi cercado pelos Espíritos de cada Estação. Os quatro me saudaram e a Primavera falou:
- Eu sou a Primavera. Sou a Renovação. Manifesto o Inicio de cada ciclo e é no meu reinado que você receberá e realizará o que quiser.
Ela me ofertou uma rosa.
- Eu sou o Verão. Sou o Desenvolvimento de cada ciclo. É no meu reinado que você e os seus desejos tomarão forma e crescerão.
Ele me ofertou uma chama num prato de ágata.
- Eu sou o Outono. Sou a Conclusão do ciclo. É no meu reinado que você fecha os vórtices que abriu na Primavera.
Ele me deu uma romã.
- Eu sou o Inverno. Sou a Contemplação do que foi vivido. Convido-o para a sua própria caverna a fim de que hiberne com a Mãe Ursa e reveja toda a caminhada para que possa dar passos mais luminosos no novo tempo que sempre estará surgindo.
Ele me deu uma taça com água.
Com os presentes das Estações fiz um altar e sentei entre eles e ouvi minha mente, a Mente Divina:
- O que está aqui dentro cria a realidade externa.
Deu-se nova explosão de luz e eu caí em sono profundo.

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