segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 41

No dia seguinte, ele teve alta e nós fomos para o seu apartamento, um quarto e sala simples e aconchegante que ficava num bairro popular. Conversando com meu novo amigo, descobri que ele trabalhava no Museu do Cairo, o que me deixou deveras interessado.
Conheci Hadhyja, sua vizinha, e os filhos dela. Pessoas adoráveis!
Enquanto Nasser convalescia, cuidei dele e aquilo estreitou mais os laços entre nós. Certa noite, enquanto tomávamos uma sopa que preparei, aconteceu a seguinte conversa:
- Você é muçulmano, Nasser?
- Não. Sou árabe, nasci e me criei numa família islâmica, mas hoje em dia prefiro ser holístico. Minha religião é o Amor.
- Como eu, como Maria do Céu...
- É impossível conviver com aquela mulher e não operar uma mudança significativa na vida.
- Você viveu com ela?
- Sim. Durante três anos fomos amantes. Ela não te disse?
- Não.
- Com ela, acessei as Nove Dimensões. E você?
- Só a Sétima. Já tinha acessado outras pelos lugares onde passei.
- E por que ela não o conduziu até a Nona? Por que me pediu para eu ser seu Guia na Oitava?
- Não sei.
- Coisas dela ou do seu caminho?
- Talvez de ambos.
- Você também foi amante dela?
- Fui.
- É impossível não se apaixonar por Maria do Céu!
- Com certeza.
- De qualquer forma, penso que você é um grande presente que ela me enviou. Seria difícil para eu passar por essa fase sem alguém para cuidar de mim.
- E você também é um presente para mim. Diante do que me aconteceu na chagada, não sabe como foi bom saber que eu fui levado para o mesmo lugar em que você estava, ainda que estivéssemos doentes.
- O Universo conspira a nosso favor, sempre.
- Tenho constatado isso.
Contamos histórias nossas e a conversa rolou até a madrugada.
Duas semanas depois, Nasser voltou a trabalhar e me levou ao Museu. Fiquei angustiado com a loucura do trânsito da cidade. Quando ele percebeu meu desconforto, disse-me que eu aguentasse firme, pois quando chegássemos ao museu, tudo iria ficar bem:
- Todo mundo sabe sobre a História antiga do Egito, mas você conhece a história do Cairo?
- Não.
- Então vou contá-la para suavizar essa tortura que precisamos viver no momento.
- Boa ideia, amigo!
- Vê! Eis o Nilo.
Passávamos por uma margem do famoso rio naquele momento e eu me emocionei. Pensei em tantos fatos históricos e dramas que o Nilo testemunhara com o passar dos anos...
- O Cairo é o lugar do mundo todo. Cidade de todas as culturas, de contrastes, plural... Foi fundada em 969 para ser a capital do Egito árabe. Anos depois foi tomada pelos turcos e mais tarde ocupada pelos franceses. Como você pode ver, nossa raiz é totalmente plural.
- Como a do Brasil.
- Sim.
Ele me fez um relato de vários aspectos da cidade e de monumentos e locais aos quais me levaria em suas horas de folga. Nossa conversa desviou minha atenção do trânsito congestionado e apesar de termos demorado a chegar ao Museu do Cairo, fiquei bastante descontraído.
Chegamos à Praça do Tahrir e ele falou:
- Aqui está meu Museu, Peregrino. Seja bem-vindo.
Ele estacionou o carro e nós adentramos no local.
- Isso aqui foi construído há muito tempo, não?
- Não. Por incrível que pareça, é recente. Não se esqueça que o antigo e o moderno convivem aqui sem maiores problemas. Construíram isso aqui em 1902.
- Interessante! E desde quando você está aqui?
- Há dois anos.
Ele me mostrou coisas maravilhosas e dentre muitas que me deixaram impressionado, uma me chamou mais a atenção: a ossada de um ser, com cerca de dois metros de altura, cujo crânio era sensivelmente alongado:
- Nasser, vejo que é a ossada de um humano, mas por que essa deformação na parte craniana?
- Não é deformação.
- E do que se trata? É incomum...
- Esse alongamento é uma característica comum de um descendente direto de alienígenas. Assim como Akhnaton e sua irmã e consorte Nefertiti, que segundo os anais da História Iniciática, tinham quatro metros de altura cada e essa mesma estrutura óssea.
- Interessante! Esse tipo de ossada só foi encontrada aqui?
- Não, mas também em escavações no México e no Peru. No Museu de Lima você também pode ver uma semelhante.
- Não estive no museu de Lima.
- É uma pena, mas pelo menos está vendo uma bem aqui.
- Verdade. Por quanto tempo Akhnaton e Nefertiti reinaram no Egito?
- Por 17 anos. Foi um tempo bom no qual eles plantaram a noção de um Deus Único no Universo e mantiveram a paz. Tiveram quatro filhos sagrados e criaram uma Escola Iniciática que futuramente se tornou, em Israel, O Colégio dos Essênios, onde Maria e José, pais de Jesus se iniciaram e mais tarde, Ele e Maria Madalena, sua mulher.
- Então tudo começou aqui...
- Quase tudo... Na América também há indícios de um começo bastante longínquo.
- É verdade... Quando acessarei a Oitava Dimensão?
- Amanhã iremos a Mênfis. Quero que você veja uma coisa lá.
Percebi que por algum motivo ele não quis responder a minha pergunta e mudou de assunto. Resolvi respeitar sua reserva. Oportunamente eu voltaria a falar sobre o assunto.

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