segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 36

No dia seguinte, fomos assistir um concerto no Palácio da Pena, no alto da Serra. Parte do acesso fizemos de carro. Depois um ônibus da empresa que toma conta do local foi nos buscar e a outros tantos que se juntaram a nós. Tudo ali era muito bonito e romântico e nos deixamos embalar pela majestosa música barroca.
Ao final, fomos a um café e começamos a falar de Sintra:
- Gostei muito do Palácio Nacional – comentei.
- O Paço é muito bonito – comentou Maria do Céu, séria. – Foi construído em duas etapas: a primeira no reinado de D. João I e a última, no de D. Manoel I. Tem toda aquela riqueza de azulejos, a suntuosidade, mas também foi palco de coisas doentias no passado.
- Como assim? – Perguntou Coiote.
- Uma rivalidade bizarra que houve entre dois irmãos: Dom Pedro e Dom Afonso VI. Pedro era louco e invejoso. Morria de despeito do irmão e forjou uma situação na qual colocou seu objeto de inveja como louco e o manteve preso por nove anos, usurpando sua mulher e seu trono.
- Que horror! – Exclamou Coiote – O poder muitas vezes destrói coisas que poderiam ser belas.
- É verdade, meu amigo. Nem só de belezas vive Sintra, mas acredito que aqui há mais delas do que de feiúras.
- Com certeza. Quantos habitantes há aqui? – Perguntei.
- Cerca de 23 mil.
- Você é daqui? – Foi a vez de Coiote.
- Não. Nasci em Coimbra, cresci, estudei, namorei, casei, tive filhos e morei por lá até os 35 anos, quando me divorciei do marido. Como pari muito jovem, meus filhos já estavam feitos e então decidi viver aqui, sozinha e assumi minha vida de estudos, experiências e de ajuda à humanidade a fim de ampliar corações e mentes.
- E como eles estão hoje?
- 25 anos se passaram. Estamos todos bem. Cada um na sua trilha.
- Fale-nos mais de Sintra – pedi.
- Aqui era o local preferido pelos reis portugueses para seus veraneios. Devia ser um fastio! Dentre as muitas coisas que amo aqui, posso situar o centro histórico...
- Amei os restaurantes! – Exclamou Coiote.
- Também os amo. Gosto da aura da cidade. Sintra é um reduto alquímico. Amanhã vou levá-los para passearmos de charrete. Vão adorar! Viram aqueles azulejos maravilhosos do Paço?
- Vimos.
- São os mudéjares e foram trazidos pelos mouros. Eles viveram aqui por algum tempo e plantaram muito da sua cultura. Em 1992, além de já ser Patrimônio Mundial, Sintra se tornou Paisagem Cultural.
- Tudo aqui transpira cultura! – Exclamei. – Há também uma tônica muito mística aqui.
- A magia da serra, a solidão, a floresta sempre atraíram monges e eremitas no passado. Hoje, Xamãs, Ocultistas, Bruxos, Alquimistas e Iniciados em geral gostam de viver experiências nesse cantão – Revelou-nos Maria do Céu.
A conversa seguiu animada. Nossa adorável anfitriã nos contou casos da cidade, histórias, lendas e recitou poesias. Era uma mulher mais do que apaixonante!

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