terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Cigano Peregrino - 38

Nos dias que se seguiram, vivemos de amor e sabedoria. Ela me falou do Arquétipo do Macho Alquímico e da Noiva Sagrada e fizemos correlações mitológicas interessantíssimas entre Jesus-Osíris-Orfeu-Logos e Maria Madalena-Ísis-Eurídice-Sofia. Não fizemos as correlações baseados em fatos históricos, mas tão somente no mito, que é a história repetida com o passar do tempo em locais e com personagens diferentes num padrão arquetípico, e foi interessante estabelecer paralelos, por exemplo, entre Jesus e Osíris. Ambos, mitologicamente, trazem a tônica do Macho Ferido – e morto – e justamente tal sacrifício deixa para a humanidade o legado da morte e do renascimento.
Como Ísis reúne as partes de Osíris e o sepulta, Maria Madalena acompanha Jesus até o final do martírio e é a primeira a vê-lo após a Ressurreição – segundo o mito bíblico; e também segundo este mesmo mito, Jesus resgata Maria Madalena do “pecado”; assim como Orfeu vai em busca da amada no Inferno e o Logos desce dos céus para resgatar Sofia das paixões mundanas . A União Sagrada traz a Luz.
O masculino e o feminino se juntam para se salvarem porque ambos são igualmente fortes e complementares. Um sem o outro não faria sentido.
Conhecer Maria do Céu foi uma das melhores coisas que aconteceram em minha vida.

Com Maria fui a encantadoras Casas de Fado e me deleitei nas noites lusitanas. Tudo entre nós era bastante divertido. Ela me levou a outros lugares da Europa: conheci Paris e me apaixonei por aquela cidade estranha; em Roma, fiquei maravilhado com tanta arte espalhada pelas ruas e em Madri nos deliciamos em tavernas onde dançavam flamenco.
Eu suguei de cada instante o néctar. Os beijos doces e quentes de minha amada me faziam mais homem, mais deus... Fazer amor com ela era transcender a transitoriedade do orgasmo e a sensação de prazer se prolongava por dias e se juntava às doçuras de novos orgasmos, tornando-se bônus de prazer.
Vivemos nesse sonho por três meses.
Até que senti o vento querendo me levar da agradável Sintra e do aconchego daquela mulher inigualável. Ela também o percebeu e quando menos esperei me presenteou com uma passagem para o Cairo. Ela sabia do meu itinerário. Também me deu um papel dobrado com um nome e um número de telefone:
- Chegando lá, ligue para esse homem. Nasser é um amigo de longas datas. Há muito que não nos vemos... Diga-lhe que mando um forte abraço. Ele será um ótimo Guia para você.

Naquela tarde de domingo, demo-nos beijos doces e demorados no aeroporto de Lisboa e nos despedimos:
- Foi muito bom ter vivido contigo, Maria.
- Foi não. É. Estaremos unidos para sempre, Peregrino.
- Ainda nos veremos?
- Não mais neste mundo.
- Sinto que meu tempo aqui é curto. Mais cedo ou mais tarde estarei me cansando deste corpo abençoado que tenho e o deixarei se transformar em adubo ou comida para peixe.
Rimos.
- Jamais morreremos, Cigano.
- Jamais.
Com lágrimas nos olhos, ouvimos a chamada para o embarque. Mais um abraço apertado e um beijo calmo e sem palavra alguma nos separamos e eu parti para o Egito.

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