segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Cigano Peregrino - 15


Vi-me diante de uma longa estrada. Ela era cheia de curvas, de atalhos e caminhos alternativos. Ficava no meio da mata atlântica e eu sentia o delicioso frescor da flora. Pus-me a andar e me reencontrei com Richard, que me abraçou, me beijou e sumiu.
Prossegui minha caminhada e encontrei um belo vaso eqípcio e ele pedia que eu o levasse. Só que era tão pesado para ser transportado por mim, que o abandonei.
Em seguida, me defrontei com um leão imenso e nos encaramos. Embora eu tenha sentido um pouco de medo, segui em frente e o animal nada me fez de mal; pelo contrário, foi muito afetuoso comigo.
Depois me deparei novamente com o lago cristalino e me banhei deliciosamente. Havia ninfas, faunos, centauros e seres de rara beleza fazendo amor, repousando ou trocando carícias. Apaixonei-me por aquela energia e me entreguei a prazeres que jamais ousei imaginar que existissem. No estágio em que eu me encontrava, tudo era realidade. O frágil limite entre o que se convencionou ser real ou imaginário havia desaparecido e tudo o que me restava era viver todo aquele sonho, toda aquela magia sem reservas ou censuras.
Em determinado momento, vi-me entre Clara e Richard. Formamos um triângulo amoroso e de nós irradiava uma energia cor-de-rosa que se espalhava pelo local paradisíaco. À sombra de uma árvore frondosa, fomos repousar. Eu estava exausto e cheio de gozo.
Quando despertei, estava só. Todos haviam partido e me perguntei se estivera sonhando. Não obtive resposta e na verdade o que eu menos queria naquele momento eram respostas. Eu só queria sentir e gravar aquilo em todas as minhas células a fim de poder partilhar futuramente com você, que entrou nessa viagem comigo.
Minha alma ardia por novas descobertas e aventuras. Eu sabia que toda aquela experiência estava sendo plasmada pelo meu inconsciente, que eu estava fazendo alquimia profunda comigo mesmo e foi daí que me ergui e segui adiante.
Após o lago vi alguns duendes que brincavam e como criança, me juntei a eles. Brincamos de roda, de esconde-esconde, dançamos e cantamos alegremente. Despedi-me deles e caminhei até uma ponte de madeira e de corda. Ela ficava no meio de um abismo e eu me pelei de temor; só que não havia outro meio de se chegar ao outro lado senão atravessá-la. Passei com sucesso e ao chegar ao fim da ponte, divisei um vasto muro impedindo-me de continuar.
Eu o escalei sem dificuldade e pulei para o outro lado e após isso, me encontrei com Richard, que me levou para um casebre, pediu-me que eu me despisse, deitou-me numa cama e cobriu-me com um colcha de lã.
Segundo ele, dormi 72 horas ininterruptas e quando acordei, estava aéreo ainda. Ele estava comigo na cama, estavámos nus. Olhamo-nos, sorrimos um para o outro e ele me acariciou o rosto:
- Gosto de você, cigano!
- Também gosto de você.
Beijamo-nos com sofreguidão. Seu beijo era doce e quente e eu adorava acariciar seus cachos dourados. O calor dos nossos corpos e a pujança dos nossos sexos se roçando fizeram de nós, dois anjos da paixão e nos amamos até a total exaustão e satisfação. 
Apaixonei-me perdidamente por seus olhos vivos e infantis. Seu sorriso era como o nascer do sol e seu toque me transportava para várias dimensões ao mesmo tempo. O cheiro que desprendia do seu corpo era pura magia e eu até pensei que poderia viver toda a minha vida com aquele companheiro, mas sabia que mais cedo ou mais tarde, aquele sonho acabaria e outro tomaria corpo.
Certa feita, tomávamos uma sopa feita por meu amigo e eu falei:
- Se antes de tomar peiote eu já não sabia se estava acordado ou sonhando, agora a coisa ficou mais forte.
- Como assim?
- É estranho! Sei que estou em algum lugar, mas não me sinto com nehuma referência geográfica. Não me lembro do trajeto que fiz de Houston para cá... Foi como se...
- Só pelo fato de haver pensado em estar aqui, você se teletransportasse?
- Isso!
- Mas foi isso que aconteceu.
- Impossível! Nunca treinei essas coisas.
- Você é a soma de tudo o que tem vivido, Gilberto. Estive com Clara em alguma dessas dimensões e ela me falou de algumas viagens suas e por sinal foi a mim que ela incumbiu de lhe guiar até o momento da sua próxima partida. Quem foi ao Centro da Terra, como você foi. Pode ir a qualquer dimensão, a qualquer tempo, a qualquer lugar... Pode ir ao Buraco Negro e sair da Galáxia para bilhões de anos-luz. Tem ideia do que você está se tornando a cada viagem?
- Ás vezes acho que é demais para mim... Penso que não vou aguentar tanta infinitude.
- Não é fácil ser Deus e é por isso que muita gente nega tal condição e foge da responsabilidade. Mas a Lei é tranquila: mais cedo ou mais tarde o despertar acontece.
- Esse lugar... Parece que não existe!
Richard riu como o Sol:
- Qual o parâmetro de existência para você?
- Antes era concretude, tudo o que eu pudesse considerar normal e acessível pelos meus sentidos.
- A 2D não é concreta? Esse casebre em que nós estamos não é? Você está comendo, fizemos amor, nos tocamos...
- Não sei, meu amado! Tudo está mudando muito rápido.
- Vivamos esse agora. Não teremos muito tempo juntos.
- Viaje comigo.
- Sabe que não posso. Tenho minha própria rota, caminheiro.
- Sei, mas enquanto estivermos juntos, aproveitemos essa chance e sejamos felizes.
- Concordo, meu amigo. Não importa o amanhã; e sim o agora.
- Durmamos, meu anjo doce. Ainda temos muito o que viver.

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