segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Cigano Peregrino - 7


Acordei diante de uma gruta, sozinho e intui que deveria entrar nela. Assim o fiz.
Ao penetrar naquele recinto misteriso, comecei instintivamente a girar como um Dervixe e o fiz por noventa e nove vezes. Caí no chão e perdi os sentidos.

Retomei a consciência não sei quanto tempo depois e me sentia mais leve do que antes. O interior da gruta era escuro e me questionei sobre como poderia ir adiante sem uma lanterna. A luz do exterior me iluminaria até determinado ponto, mas e depois? Como prosseguiria? Apesar de todos os meus questionamentos, fui em frente e me surpreendi ao perceber que embora estivesse imerso em total escuridão, conseguia enxergar tudo ao meu redor e não se tratava de uma mera adaptação da retina. Havia algo mais em meu olhar que me permitia perceber além dos meus sentidos.
Percebi que alguém se aproximava de mim e não tive medo. Uma luz e uma sombra moviam-se em minha direção até que pude divisar um índio alto, forte e belo, carregando um lampião, que me saudou de forma amigável e se comunicou mentalmente comigo:
- Sou o Guardião da Embocadura. Quem é você?
- Gilberto – eu também pude me comuncar da mesma forma!
- Que faz aqui, Gilberto?
- Quero chegar aos mundo subterrâneo.
- E o que o habilita a ter esse acesso?
- Minha vontade.
- Qual é o seu objetivo?
- Chegar ao Núcelo do Planeta. Ao Cristal de Ferro.
- Você é o Peregrino?!
- Sim.
- Acompanhe-me.
Caminhamos em silêncio por um longo tempo. A cada sala da gruta que eu conhecia, me maravilhava ainda mais. Estalagmites, estalacitites, fontes, formações belas e curiosas. Nunca imaginei que viveria uma aventura deste tipo. À medida que descíamos, a atmosfera ficava mais leve, mais fresca e eu tinha a nítida impressão de que estava sendo observado por muitos olhos. Lendo meus pensamentos, o Guardião se comunicou comigo:
- Não se preocupe. São os habitantes de Duat. Estão lhe dando as boas vindas. Sempre que vem alguém aqui é uma festa.
- Muitos vêm aqui?
- Poucos.
- Como se chama?
- Xavã.
- Pode me falar mais sobre a embocadura?
- A embocadura se relaciona com o seu interior e não necessariamente com uma região intra-terrena. Quando você está pronto para ir para dentro de si mesmo, quando está disposto a sair da superfície e desbravar a própria caverna existencial, poderá se introduzir nas entranhas de Gaia. Quando tiver a coragem de abrir e iluminar seus chakras, estará apto a conhecer os chakras do planeta em que está habitando.
- A Terra tem chakras?
- Tem. Existem várias regiões no planeta que recebem o nome de “Sagradas” porque as Energias Cósmicas e Telúricas fluem com mais facilidade. Esses lugares são grandes vórtices energéticos e se constituem como base de muitos seres ascencionados.
- Então Machu Picchu?...
- Sim. Assim como os lugares da superfície que você ainda haverá de percorrer. Assim como os lugares que seu pai e os amigos ciganos dele percorreram antes de voltarem para casa.
- E eu? Quando eu tiver percorrido essa trajetória, o que acontecerá comigo?
- Não me pergunte sobre o seu destino, viajante. Só você sabe dele.
- O que estou vivendo é um sonho?
- Chame do que quiser. Vivemos num mundo belo, onde as dimensões se interpenetram a todo momento. Quando ocorre a sutilização dos veículos, você pode acessar as nove dimensões ao mesmo tempo.
- Isso deve ser uma loucura!
- E não é nisso que você está metido agora?
- Mas... Penso que para sutilizar os veículos seriam necessários anos de treinamento e exercícios árduos. Eu... não me sinto digno.
- O caminho mais leve e fluídico para a iluminação é o Prazer; não a Dor. Não se trata de um treinamento militar. Trata-se de uma jornada suave. A dureza dela varia com as resistências internas de quem a faz. Quanto mais livre for o interior do Buscador, menos dolorosa será a transformação. Quanto mais livre for o seu interior, mais leve será o exercício da disciplina, porque em você só haverá o orgulho e o egoismo sadios e necessários para a sobrevivência.
- Tudo o que me ensina me deixa num estado elevado. Sinto paz e harmonia em mim. É como se eu estivesse viajando por Planos Superiores.
- Por que “Como se”? Você está viajando verdadeiramente, Peregrino.
- Como consegue isso?
- Um dia você terá o Dom da Alta Magia. Dominará os elementos e saberá como aquietar as almas confusas. Saberá como, através de um olhar, elevar o estado de consciência das pessoas.
- Por falar em pessoas, quem vive nesse mundo interior?
- Você pode também chamá-lo de Mundo Jina. Tem muita gente. Além dos que habitam nele ordinariamente, têm aqueles que desencaranaram e ainda não compreenderam muito bem a Terceira Dimensão; há também os Iniciados e ainda os seres que contribuiram para a evolução da humanidade.
- O que as almas fazem no Mundo Jina?
- Sonham e aprendem. Recapitulam seus erros e acertos, desenvolvem aptidões e outros dons que serão integrados em seu átomo primordial para que possam reencarnar e dar novos saltos evolutivos, e contagiar outras pessoas.

Andamos por mais um tempo em silêncio e minha sutileza aumentava a cada passo, a cada vez que eu penetrava mais em mim mesmo e no interior da Terra.
- Prepare-se. Estamos entrando em Duat.
Comecei a ver uma luz prateada que ia se intensificando e crescendo à proporção que nos aproximávamos de um Portal e perguntei a Xavã:
- Que lugar é esse?
- Não é um lugar. É uma dimensão – ele respondeu.
Num átimo, vi-me diante de um cenário inesquecível!
Tudo era prateado e me causava uma estranha sensação de plenitude. Íamos passando por pessoas muito altas, vestidas com descrição, pessoas respeitáveis, sorridentes e bastante afáveis. Cumprimentavam-me carinhosamente, fazendo-me sentir bem-vindo. Eu vi habitações simples e belas, vi e conheci pessoas das mais variadas raças, crenças, épocas e nações. Eu devia estar com cara de “Alice no País das Maravilhas”, mas não tive nem tempo para ter senso de ridículo. Duat era simplesmente fantástico.
Vi prédios, construções, praças, estádios e auditórios espaçosos e impressionantes, até que meu amigo e Guia me falou:
- Aqui, Gilberto, está contida toda a história da humanidade, desde seu início até sempre.
Naquele instante algo insólito aconteceu que me deixou extasiado. Surgiram diante de mim milhões de livros arrumados impecavelmente em gigantescas prateleiras. Eles tinham todos os tamanhos, formatos e cores; foram escritos em várias línguas e códigos... Vi-me diante de tanta informação e conhecimento que fiquei tonto:
- Isso aqui é uma Universidade Cósmica! – Exclamei.
- Bem empregado, Gilberto. Agora vou deixá-lo a sós para que possa se instruir mais um pouco.
- Obrigado, amigo!
- Divirta-se.
Ele se foi e como o tempo naquela dimensão não é linear, tive a impressão de haver passado anos estudando ali. E era tão gostoso conhecer, aprender, desmistificar, que quanto mais eu sabia, mais informações queria. Inclusive fiz uma excursão maravilhosa por diversas encarnações minhas na Terra e estágios que vivi em outros planetas. Fiz um mapemaento de toda minha essência a partir do meu átomo primordial e relembrei aprendizagens, reaprendi línguas já faladas por mim – até mortas – viajei em minha genealogia, bem como na de meus pais e me surpreendi ao constatar que venho reencarnando neste planeta há cinco milhões de anos.
Vi-me na Etiópia, fabricando os primeiros instrumentos de pedra. Fui Curandeira na Europa Central quando incrementaram os rituais fúnebres; cacei bisões e mamutes na Era Glacial; passei pela vida sedentária, pelo surgimento da agricultura e pela domesticação de animais; trabalhei com cerâmica na Jordânia; pertenci à dinastia Zhou na China; fui escriba no Egito; fiz rituais druídicos nos megalitos de Stonehenge; fui iniciado no Colégio dos Essênios; ensinei banto na África; trafiquei escravos; fui escravizado; vendi entorpecentes no Caribe; estive entre os primeiros maori que povoaram a Nova Zelândia; fui prostituta na Índia; amei nas fogueiras de Beltane; ardi nas fogueiras da Inquisição; participei da revolta dos camponeses na Inglaterra; construí palácios em Creta; participei de bacanais em Roma; cultivei o bicho-da-seda em Bizâncio; arremessei runas com os vinkings; testemunhei a expansão do Cristianismo e seus abusos; peregrinei à Mecca; fui gueixa; estive entre os judeus expulsos da Alemanha; plantei cana-de-acúcar no Brasil e antes de reencarnar como Gilberto, fui perseguido e morto pelos castritas por fazer oposição ao regime tirano.
E também constatei que estive várias vezes em Duat, na maioria das minhas mortes, a fim de me desfazer das incrustações adquiridas durante certas encarnações para poder acessar os Mundos Agarthinos, mas quando quis saber o que seriam “aqueles outros mundos”, Xavã reapareceu e me fez a seguinte proposta:
- Acho mais válido você entrar em Agartha do que ficar lendo sobre ela. Concorda?
É claro que concordei.

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