segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Cigano Peregrino - 3


No dia seguinte, Zilda e Acauã deixaram-me num hotel em Rio Branco:
- Cuide-se, Cigano! – Disse-me ela ao se despedir de mim, beijando-me carinhosamente a boca.
- Vá consigo mesmo – exortou-me Acauã.
- Como?! – Perguntei curioso.
- Você é Deus. Que você se abençoe hoje e sempre!
Entendi o que aquele homem sábio acabara de me revelar e me senti tão pleno que chorei emocionado. Beijamo-nos e eles se foram.
Depois de haver comprado minha passagem para Lima, passei minha estada no Acre dormindo. Sentia uma espécie de torpor e necessidade de repousar. Às vezes, batia um vazio e eu tinha visões estranhas. Ainda era efeito do chá.

No outro dia, eu já estava em terras peruanas. Amei Lima e de lá falei com meu pai e ele me disse que faltaria pouco para partir. Despedimo-nos amorosamente e sem tristeza, pois eu sabia que mais cedo ou mais tarde poderíamos nos rever.
Fui ao Câmbio, troquei o dinheiro e em seguida, fui a um restaurante e comi o maravilhoso Ceviche, um fruto do mar cru, curtido no limão, acompanhado de cebola e batata doce e fiz amizade com o garçom, um jovem belo e moreno chamado Hugo. A empatia entre nós foi espontânea e rápida. À noite saímos para tomar cerveja e ele me perguntou no seu lindo castelhano:
- Que faz aqui?
- Quero ir a Machu Picchu.
- Também fala com extraterrestres?
- Não... – pensei em meu pai e nos amigos ciganos – Quer dizer, sim... Por quê?
- O pessoal que vai lá diz que tem contato com eles. Sou meio cético quanto a isso. Nem acredito, nem desacredito.
- Fale-me de lá, amigo.
- As marcas dos Incas podem ser encontradas em todo país. Aonde você chega, vê um descendente, um objeto de arte, uma comida típica, enfim, uma referência. Mas nas sagradas ruínas de Machu Picchu, essas marcas encontram seu ponto maior de representação, através dos templos grandiosos e da natureza mais do que exuberante que há por lá.
- Qual a altitude do lugar?
- Hum!... Se não me engano, fica a 2.400 metros. Os Deuses a enfiaram na área mais inacessível dos Andes. Fica lá oculta pela floresta tropical, cheia de montanhas sagradas e água corrente. É sem dúvida um dos maiores patrimônios culturais da humanidade e o mais louco é que a cidade foi toda construída com pedras, sem cimento e sem argila.
- Deve ser um sonho!...
- É. Com certeza!
- Certo dia, muito antes de eu imaginar que estaria aqui no Peru, vi uma reportagem que me deixou fascinado – comentei.- Achei interessantíssimos os terraços feitos para a agricultura.
- Toda a estrutura do lugar foi montada para a passagem do Deus Sol.
- Como faço para chegar lá, Hugo?
- Isso depende de sua personalidade.
Meu novo amigo riu divertido com minha cara apalermada.
- Como assim? – Perguntei.
- Se sua alma for aventureira, recomendo o Caminho Inca, que consiste numa caminhada de quatro dias para se chegar ao seu destino. São 45 km e você entra pela majestosa Porta do Sol. Muita gente gosta de se jogar nessa aventura e diz viver coisas fantásticas.
- Sou um aventureiro, mas andar quatro dias... Sei não.
- Calma! Há outras opções: se você é um aventureiro moderado, também pode ir para Cusco de trem, de lá vai para um povoado chamado Águas Calientes e pegar um ônibus que te deixará em Machu Picchu em mais ou menos meia-hora.
- Esse é mais em conta.
- E se ainda for um homem acomodado e que preza pelo conforto, poderá pegar um helicóptero em Cusco e chegar também em 30 minutos. Então, faça sua escolha.
- Prefiro a segunda opção.
- Sábia decisão, brasileño!
Falamos de nós, do mundo e a noite terminou. Despedimo-nos, eu fui para o hotel e meu amigo peruano, para casa. Dormi um pouco e acordei ao meio-dia com uma leve ressaca. Achei por bem ficar descansando e viajar no dia seguinte.

2 comentários:

  1. Quero ir para sentir estas coisas fantásticas e falar com os extraterrestres. Vou na segunda opção também, rsrs. Bjos.

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